🐶De ansiedade a reatividade: o que é adestramento positivo e como ele pode melhorar comportamento dos pets


Tutores relatam como método mudou qualidade de vida de animais de estimação. ‘Amor é isso, é ter paciência’, diz moradora de Ribeirão Preto. Problemas de agressividade, reatividade e até ansiedade causam malefícios tanto para animais de estimação quanto para quem convive com eles. Por isso, pets devem ser tratados da melhor maneira possível.
🐕Mas você sabe o que é a prática do adestramento positivo? O método está cada vez mais presente nas redes sociais e na vida dos bichinhos e seus tutores.
O adestramento positivo é um método para entender o comportamento do seu animal e prevenir algumas reações, possivelmente prejudiciais, sem usar reforços punitivos, como agressões físicas.
Pautado em paciência e carinho, esse tipo de adestramento tem ganhado muitos adeptos ao longo dos anos.
“Amor é isso, é ter paciência, nunca desistir, porque eles não sabem o que eles estão fazendo, não é culpa deles”, diz a analista de OTC Bruna Remondi, de 34 anos, que passou pelo processo do adestramento positivo para ajudar sua cachorra Chanel, de 8 anos, com a ansiedade de separação.
Chanel e Cherrie passam por adestramento positivo para melhorar qualidade de vida na região de Ribeirão Preto
Arquivo Pessoal
Bruna, Chanel e a ansiedade por separação
Bruna encontrou a cachorra na escola onde a mãe trabalhava. Quando ela e o marido foram até lá, em um dia de chuva, Chanel estava encharcada e suja de barro com, aproximadamente, quatro meses de idade.
“Coloquei o nome de Chanel por causa da história da Coco Chanel [estilista francesa; 1883-1971] que foi do lixo ao luxo. Eu falei: ela vai ter o mesmo destino”, afirma Bruna.
A partir da adoção, no entanto, a cachorra começou a apresentar comportamentos preocupantes quando seus tutores saíam de casa.
“Ela andava em círculos, aí ela começava o uivar, aí depois que ela já começava a ir rumo portas e janelas para raspar. Ela já chegou a ficar um dia inteiro raspando uma porta. A gente chegou, ela estava do outro lado da porta. Ela já atravessou uma porta de vidro desesperada para ir atrás da gente”, relembra Remondi.
Foram seis anos buscando alternativas para ajudar Chanel, incluindo recomendações de veterinários para usar um antidepressivo.
Chanel fica tranquila sozinha depois de passar por adestramento positivo em Ribeirão Preto, SP
Arquivo Pessoal
“Até em missa já levei para benzer”, conta Bruna sobre uma de suas tentativas de ajudar a Chanel com a ansiedade por separação.
Até que um dia, o casal conheceu Lívia Borelli, que é adestradora positiva há dez anos. Por meio de aulas pela internet, a analista foi implementando uma rotina com a Chanel, buscando diminuir a ansiedade da cachorra.
“No começo, o que eu fiz com a Bruna e a Chanel foi explicar o que estava acontecendo com a Chanel, por que ela estava se comportando assim e como a gente pode fazer mudanças ambientais para que a Chanel se sentisse mais segura”, explica Lívia.
Segundo ela, a ansiedade por separação, por exemplo, se assemelha a quando uma pessoa está passando por uma síndrome do pânico, em que sente falta de ar e pensa que vai morrer. Por isso, métodos que envolvem punições físicas não resolvem.
“Na ansiedade por separação, o cachorro está sofrendo, não está se comportando mal”, conta a adestradora.
Lívia Borelli é adestradora e comportamentalista animal e ajudou no caso da Chanel em Ribeirão Preto, SP
Arquivo Pessoal
🐕‍🦺Durante o treinamento, foi utilizado um peitoral que ajudou a estabelecer limites sem machucar a cachorra, os passeios se tornaram mais frequentes e novos comandos foram aprendidos. Além disso, houve um enriquecimento ambiental com petiscos e brinquedos diferentes.
A partir daí, elas começaram treinos específicos aumentando aos poucos o nível de separação entre tutora e pet: de uma pequena abertura na porta, até uma rápida ida ao carro. As mudanças surtiram efeito e, em cinco meses, Chanel apresentou respostas muito boas.
“O pouco que eu aprendi foi para o resto da vida, fazendo dois anos [desde o treinamento] que eu posso dizer, a Chanel é feliz e a gente é 100% tranquilo agora”, conta Bruna.
Ela relata que faz o que aprendeu até hoje, dos comandos ao enriquecimento ambiental.
“Pega a garrafinha, corta e coloca o petisco dentro. Um rolinho de papel higiênico e coloca o petisquinho dentro. Todos os dias antes de sair de casa sempre vai ter alguma coisa. Sempre tem”.
Chanel passa por adestramento positivo para ajudar na ansiedade por separação em Ribeirão Preto, SP
Arquivo Pessoal
Julia e Cherrie, um caso de reatividade
A história entre tutora e pet começou em Ituverava (SP), quando Julia Dias, de 24 anos, se apaixonou ao ver nas redes sociais uma cachorrinha de quatro meses para doação. Após dois anos de convívio, Cherrie, de 8 anos, começou a apresentar alguns comportamentos de reatividade e agressividade.
“Já dava para perceber que quando ela ia passear, por exemplo, era sempre um momento de ansiedade muito grande. Era aquele cachorro que puxava muito a coleira. Ela chegou a arrebentar duas coleiras já. Era sempre assim. A gente até evitava passear com ela porque era um momento muito estressante. Ela era muito agitada”, lembra Julia.
Cherrie passa por adestramento positivo para melhorar comportamentos restivos e Barretos, SP
Arquivo Pessoal
Foi durante a pandemia que ela e a família começaram a ficar mais atentos aos comportamentos da Cherrie, como ficar em uma posição defensiva para quem passava muito perto ou até mesmo comer muito rápido.
As idas ao veterinário também eram um problema. Cherrie nunca chegou a morder ninguém, mas ela se mostrava agressiva e tinha dificuldade em aceitar ser examinada, por isso, era comum irem três pessoas ao veterinário com a cachorra, que usava focinheira.
Foi então que a irmã da Julia viu o perfil o perfil da Carolina Lessa, adestradora positiva há dez anos, e recomendou para ela.
Carolina Lessa é adestradora positiva há dez anos e ajudou no caso da Cherrie em Barretos, SP
Arquivo Pessoal
“A gente tem muito um pensamento de que o cachorro, depois de velho, não consegue aprender mais. E a Carol falou que não, que com qualquer idade o cachorro consegue aprender desde que o tutor tenha a disposição. Então a gente falou ‘Vamos tentar'”, diz Julia.
A adestradora Carolina Lessa conta que Cherrie era uma cachorra muito insegura e, por isso, reagia mal a objetos ou pessoas que ela não conhecia ou se sentia desconfortável que se aproximavam dela. O primeiro passo foi trabalhar a comunicação entre pet e tutora.
“A gente trabalhou primeiro toda a relação da Cherrie com a Julia, de Cherrie confiar na Julia, de elas terem uma boa comunicação, elas se comunicarem da maneira correta, de a Julia aprender como a Cherrie se comunica”, explica a adestradora.
Depois, foi iniciada a fase de apresentar à cachorra situações e objetos de que ela tinha medo, como secador de cabelo.
No começo, o secador foi deixado no mesmo ambiente em que a cachorra estava, enquanto Julia treinava com ela comandos como sentar, dar a pata e passar no meio das pernas. Ao longo dos dias, o objeto foi sendo aproximado dela cada vez mais até os dois estarem lado a lado e Cherrie não esboçar nenhuma reação.
Depois disso, o objeto, ainda desligado, era movimentado perto de Cherrie. Tudo foi feito de maneira gradual, até o momento final em que o secador foi ligado perto dela e movimentado ao seu redor sem que ela se mostrasse agressiva.
“Todo esse processo era sempre respeitando, através da linguagem corporal do cachorro, o quanto ele estava se sentindo confortável nessa situação. A gente nunca levava o cachorro a um nível de estresse altíssimo, porque a gente não pode proporcionar para ele uma má experiência, se a gente quer o dessensibilizar de alguma coisa”, explica Carolina.
Cherrie passa por adestramento positivo para superar medo de secador de cabelo em Barretos
Com nove meses de treinamento e muita dedicação, hoje Cherrie e Julia vivem uma relação bem mais tranquila.
“Cada cachorro é um indivíduo e cada um deles tem as suas emoções e a gente precisa respeitar isso. Porque muito do comportamento é reflexo das emoções que o cachorro está sentindo naquele momento e de experiências que ele viveu”, explica Carolina Lessa.
Julia coloca brinquedos na ração da Cherrie para acalmar Cherrie na hora de comer em Barretos, SP
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*Sob supervisão de Rodolfo Tiengo
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