Para manter passagem a R$ 5, Prefeitura de Ribeirão Preto subsidia R$ 2,09 por passageiro transportado


Reajuste vai ser pago com dinheiro dos impostos. Segundo administração, valor da passagem teria de ser de R$ 7,09 para que não desse prejuízo ao sistema. Reajuste da tarifa de ônibus em Ribeirão Preto, SP, será pago com dinheiro dos impostos
Usuários do transporte público em Ribeirão Preto (SP) pagam R$ 5 na passagem, mas o preço, na realidade, é ainda maior. A prefeitura complementa o valor com mais R$ 2,09 para cada pessoa que utiliza ônibus na cidade. No fim das contas, a passagem de ônibus sai por R$ 7,09, uma das mais caras do país.
Por causa de um contrato firmado entre a Prefeitura de Ribeirão Preto e as empresas de ônibus da cidade há 11 anos, esse reajuste na tarifa acaba sendo pago com o dinheiro dos impostos que, por sua vez, vem da população.
Segundo dados disponibilizados no Portal da Transparência da administração municipal, em dois meses já foram repassados R$ 7,8 milhões para o Consórcio PróUrbano.
Mas, para os usuários, o subsídio dado pela prefeitura não está garantindo melhorias no transporte público.
“Os ônibus são péssimos, vem lotados, não passam nos horários. Está horrível”, reclama a cuidadora Elaine Fagundes.
A operadora de monitoramento Érica Oliveira viaja de Pontal (SP) para Ribeirão Preto todos os dias e concorda que o valor está caro.
“Nós estamos pagando por esse serviço. Pesa no bolso e na hora que você precisa, cadê?”
O Consórcio PróUrbano foi procurado pela EPTV, afiliada da TV Globo, mas não respondeu nem sobre as reclamações dos usuários e nem sobre o repasse da prefeitura na tarifa.
Passageiros fazem fila para entrar em ônibus em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
Subsídio previsto em contrato
Segundo Alessandro Hirata, secretário da Casa Civil de Ribeirão Preto, o subsídio já estava previsto no orçamento de Ribeirão Preto.
“O sistema de transporte coletivo urbano de Ribeirão Preto era custeado somente pelo valor da passagem. Isso já foi aferido, nas grandes cidades do mundo inteiro, que não é suficiente para que o sistema de sustente”.
Ele explica que contar apenas com o valor da passagem para custear o transporte público geraria prejuízo para o sistema e uma operação de menor qualidade.
“Para que isso não aconteça, já tinha sido previsto, lá em 2021, no início do contrato, a possibilidade de subsídio. Mas só agora, com a revisão desse contrato dez anos depois, é que conseguimos regulamentar esse subsídio”, explica Hirata.
O subsídio repassado em junho é referente aos meses de março e abril de 2023. Caso a prefeitura não tivesse pago os R$ 7,8 milhões, a passagem seria reajustada para R$ 7,09. O último reajuste da tarifa foi em fevereiro de 2022, quando o bilhete passou a custar R$ 5.
Essa não foi a única vez que a prefeitura arcou com os custos das tarifas. Em dezembro, R$ 9,6 milhões foram repassados do governo federal para a administração municipal, que destinou o dinheiro para o PróUrbano para bancar as passagens dos idosos. Entretanto, os repasses começaram ainda antes disso.
Arte mostra repasses da Prefeitura de Ribeirão Preto para empresas de ônibus desde 2021
Reprodução/EPTV
Início dos repasses
A ajuda para as empresas começou durante a pandemia, quando R$ 17 milhões foram repassados para o consórcio PróUrbano, que na época reclamou de prejuízo, pois o número de usuários do transporte público havia caído.
Além disso, a partir de 2022, a prefeitura começou a pagar R$ 70 milhões para os empresários que, em troca, devearim renovar a frota de ônibus até 2024 e perdoar dívidas do município.
A primeira fase da troca de veículos está prevista para acontecer ainda neste ano, quando 50 novos veículos com ar-condicionado, suspensão a ar, Wi-Fi e carregador de celulares começarem a circular na cidade.
Ônibus estacionados em pátio em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
Subsídio não garante melhorias
Professor de administração pública, Leonardo Terra diz que o subsídio não garante melhorias.
“Foi demasiadamente elevado em uma tarifa que já é uma das mais caras do país. Então, na verdade, é um subsídio que visa somente esconder uma tarifa de alto valor e distribuir esse custo para todos os contribuintes porque, na verdade, todos nós estamos pagando o valor dessa tarifa mais alta”.
Ele ainda destaca que esse valor poderia ser aplicados em outras áreas, como educação, saúde, saneamento e infraestrutura, setores que, segundo o professor, a população enfrenta dificuldades.
“Na verdade, a prefeitura está optando por subsidiar o transporte público em tarifas que já são muito elevadas enquanto deveria estar discutindo com os consócios se não seria mais viável renegociar esses valores”.
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