Santa Casa de Ribeirão Preto e UPAs dizem que grávida teve atendimento adequado nas 8 vezes que buscou ajuda antes de morrer


Ana Cristina, de 23 anos, teve traumatismo cranioencefálico em acidente de trânsito e foi liberada da Santa Casa no mesmo dia. Após peregrinação, ela foi internada, mas não resistiu. Família acusa negligência. Grávida passou 22 dias em busca de atendimento antes de morrer em Ribeirão
A Santa Casa e a coordenação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Ribeirão Preto (SP) afirmam que Ana Cristina Santana Lourenço, que morreu grávida aos 23 anos após sofrer complicações em razão de um acidente de trânsito no fim de maio, recebeu o atendimento adequado previsto em protocolos de saúde.
Apesar disso, a Santa Casa e a Secretaria Municipal de Saúde abriram investigações internas para avaliar o prontuário médico da paciente.
A família de Ana Cristina acusa a rede pública de saúde de negligência. No dia do acidente, médicos da Santa Casa identificaram um traumatismo craniano, mas a jovem foi liberada horas após dar entrada na unidade. Depois disso, ela passou por seis atendimentos posteriores em UPAs até ser regulada no dia 6 de junho para a Santa Casa, onde morreu no sábado (10).
“A gente não teve nenhuma reposta deles. O pai dela foi ao hospital e perguntou o que tinha acontecido. O médico disse que ela tinha entrado com traumatismo craniano. Se eles sabiam que ela tinha entrado com traumatismo craniano por que eles liberaram ela?”, questiona a mãe, Maria Dyana Santana.
De acordo com o atestado de óbito, Ana Cristina morreu em razão de tromboembolismo pulmonar, traumatismo cranioencefálico e pielonefrite, que é uma grave infecção de urina.
Ana Cristina Santana Lourenço, de 23 anos, morreu após acidente de trânsito em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
Protocolos seguidos
O diretor técnico da Santa Casa, Marcelo Puga, diz que ao dar entrada no dia do acidente, em 19 de maio, Ana Cristina foi atendida por uma equipe envolvendo um neurocirurgião, um cirurgião geral e um ortopedista, conforme protocolo internacional chamado ATLS (Suporte de Vida Avançado no Trauma), aplicado em pacientes com politraumatismo. Ela também foi avaliada por um ginecologista obstétrico por causa da gestação.
Segundo Puga, Ana Cristina foi liberada porque “o traumatismo cranioencefálico não é sinônimo exclusivo de internação”. Ela passou por exames clínicos e de imagem, e o diagnóstico pode ser considerado leve, moderado ou grave. “Podem ser feitas as orientações e dar seguimento ambulatorial”, diz.
Santa Casa de Ribeirão Preto, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
Treze dias após ter alta da Santa Casa, Ana Cristina começou uma peregrinação envolvendo passagens pelas UPAs Leste e Oeste, além da Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS) do bairro Vila Virgínia.
“Passou uma semana vomitando direto, eu levei ela na UPA e fiquei uma semana lá com ela. Ela desmaiou na UPA. A médica nem levantou da cadeira pra ver minha filha. Ela fez os exames, não conseguia nem fazer xixi. Fez de urina e sangue. A médica disse que era uma leve infecção de urina e que o vômito era por causa da gravidez. Voltamos para casa e retornamos no outro dia. Não parava de vomitar. Passaram antibiótico, mas não conseguia tomar. Foi piorando”, diz.
Somente no dia 6 de junho, Ana Cristina foi encaminhada para internação e voltou à Santa Casa.
“Ela passou por várias vezes nas nossas unidades, mas até a última vez, nenhuma das outras tinha alteração que justificasse a conduta médica de regulação da paciente. Na última vez, sim, quando houve essa necessidade por alterações, a paciente foi regulada de forma correta”, afirma Alessandra Medeiros, coordenadora das UPAs.
Maria Dyana Santana reclama que a filha, Ana Cristina, morreu por negligência médica em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
O diretor clínico da Santa Casa afirma que no retorno da paciente à instituição, ela foi submetida à nova tomografia no segundo dia de internação.
“No retorno dela que aconteceu no dia 6, dois dias depois, na persistência de alguns sintomas foi submetida a uma nova tomografia de crânio para controle e avaliação de como estava. Nada que justificasse o quadro naquele momento, não tinha uma alteração que justificasse qualquer outro tipo de alteração ou conduta diferente da que estava sendo tomada naquele contexto.”
A mãe da paciente diz que ela chegou a desmaiar no banheiro da Santa Casa e a convulsionar nos braços de uma médica.
“Na segunda convulsão, por volta das 22h [de sábado], aí ela teve a parada junto com a convulsão e não voltou mais.”
Cronologia dos atendimentos prestados a Ana Cristina Santana Lourenço na rede de saúde de Ribeirão Preto, SP
Arte/EPTV
Apuração interna
Puga afirma que do ponto de vista assistencial, a Santa Casa prestou todo atendimento necessário a paciente.
“Tudo o que pode ser feito no sentido de prestar o atendimento foi feito o tempo todo. É uma situação que ainda está sendo apurada internamente, revisão de todas as anotações, revisão de todos os exames que foram submetidos confrontando com os laudos e fazendo uma averiguação de todo o processo. O que se tem apurado até o momento é que todas as intercorrências, tudo o que pode ser feito foi feito no sentido de garantir assistência.”
Já a coordenadora das UPAs, Alessandra Medeiros, afirma que o caso será apurado com rigor.
“A Secretaria [da Saúde] vai avaliar o caso rigorosamente. É uma investigação interna porque existe toda uma situação de proteção do prontuário e das coisas que estão nele.”
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