Leandro do João Amado sugeriu que pessoas em situação de rua que ‘dessem trabalho à prefeitura’ deveriam apanhar. Advogado explica que político tem imunidade parlamentar e cabe à Câmara avaliar se houve ou não quebra de decoro para instaurar processo administrativo. Vereador de Pedregulho diz que morador de rua que não aceita internação precisa apanhar
A fala do vereador de Pedregulho (SP) Leandro do João Amado (Cidadania) sobre “dar um coro” em moradores de rua que estiverem “dando trabalho” para a prefeitura proferida durante sessão da Câmara de Vereadores revoltou a população, mas o presidente da casa, vereador Beto Brasil (PL), diz que a Câmara não pode ser responsabilizada.
“Ele tem o poder de fala dele, então, quando ele pega o microfone, eu não sei o que ele vai falar. Também não posso impedi-lo, porque ele tem o tempo limite regimental. Então, infelizmente, nessa parte, cada vereador responde por sua fala”.
Leandro proferiu o discurso na tribuna no dia 10 de abril, logo após Brasil ter afirmado que o Ministério Público havia indeferido pedido da casa para tratar da situação de moradores de rua na cidade e teria negado uma reunião sobre o assunto. (Veja acima)
Segundo o parlamentar, as pessoas em situação de rua em Pedregulho não aceitam os programas sociais oferecidos pela prefeitura. Ainda sim, Beto diz discordar das falas de Leandro.
“Todo mundo é contra a violência e a nossa intenção é resolver da melhor forma possível, tanto para o morador de rua quanto para o município”, afirma.
Fala de Leandro do João Amado (Cidadania) causou indignação na população em Pedregulho, SP
Reprodução/Câmara Municipal de Pedregulho
Um levantamento da Câmara de Vereadores de Pedregulho aponta que a região central da cidade tem 11 pessoas em situação de rua.
O comerciante Vacil Moreno conta que já teve problema com alguns deles, mas, mesmo assim, não aprova a fala do vereador. “Têm uns que atrapalham, são poucos, mas têm”.
Brasil diz que procurou o MP para uma parceria entre prefeitura, por meio das Secretarias de Saúde e Assistência Social, Câmara e o próprio órgão. “Pra gente chegar em um denominador comum e uma solução para o problema”.
Para o mecânico Edno Paulino da Silva, a prefeitura deveria apoiar mais as pessoas em situação de rua.
“O que resolve é fazer um programa, uma ação social e tirar esse povo da rua e apoiar eles, ter uma casa de apoio”.
‘Não cabe nos dias atuais’
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Franca (SP), Acir Matos diz que a postura de Leandro não cabe nos dias atuais.
“É um problema social, mas um problema social você não resolve por meio de violência física. É um pouco mais difícil, mas é assim que nós resolvemos lidar com os problemas: tem que ser por meio de políticas públicas”.
Segundo ele, apesar da indignação causada pelo discurso, o parlamentar não deve responder civil ou penalmente.
“O vereador tem imunidade parlamentar. O que ele fala na tribuna, em um primeiro momento, ele não tem responsabilidade nenhuma. Nem civil, nem penal, nem administrativa”, explica.
Entretanto, Matos esclarece que cabe à Câmara dos Vereadores avaliar se houve ou não quebra de decoro parlamentar.
“Quando se pensa em decoro parlamentar, a gente pensa ‘qual é a ética, a conduta que se espera de um parlamentar no exercício dessa função pública?’ Como o conceito é muito amplo, o ideal seria que os regimentos internos falassem ‘vamos considerar isso ético ou não ético’”.
Após a avaliação da própria Câmara, é possível instaurar ou não um processo administrativo contra o vereador.
Câmara Municipal de Pedregulho (SP)
Reprodução/EPTV
Fala polêmica
Leandro do João Amado proferiu a fala em uma sessão da Câmara do dia 10 de abril, mas o vídeo tem causado indignação nas redes sociais mesmo dois meses depois.
“Os mendigos que estiverem dando trabalho aí na rua e que não quiserem internar, ‘ripa’, ‘coro’. O caboclo que não quiser internar e a família não quiser ele, ‘chacoalha o bambu’, ‘coro'”, diz o vereador.
Ele ainda afirma que “só assim” a pessoa “criaria tipo”, que significa grosso modo “virar gente”.
“Aí cria tipo, para de ficar fazendo necessidade nas praças, para de ficar atormentando a população, porque lá em Rifaina [cidade vizinha] você não vê isso, não”.
O g1 e a EPTV, afiliada da TV Globo, procuraram o parlamentar, mas ele não deu retorno até a publicação desta reportagem.
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Presidente da Câmara de Pedregulho diz não poder impedir fala de vereador sobre ‘dar coro’ em moradores de rua
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