Estrela cadente, meteoro, meteorito ou lixo espacial: professor da USP explica o que são corpos celestes


Clarão no céu no início da semana chamou a atenção de moradores da região de Ribeirão Preto (SP) e houve até quem garantisse um pedido. Criança filma bola de luz em Ribeirão Preto, SP, e pede: ‘quero ser rico’
No início desta semana, um clarão no céu chamou a atenção dos moradores da região de Ribeirão Preto (SP). Especialistas apontaram que o fenômeno pode ser um meteoro, lixo espacial e houve até mesmo quem fizesse um pedido bem sincero a uma estrela cadente.
Christian Henrique, de 10 anos, brincava na rua com a irmã mais nova e outras crianças, quando viu o confundiu a bola de luz e desejou ‘ser rico’. (Veja vídeo acima)
Só que, segundo o astrônomo Julio Lobo, do Observatório Municipal de Campinas (SP), o clarão visto por muita gente é, na verdade, restos de um foguete chinês que reentrou na atmosfera.
Morador flagra bola de luz no céu da região de Ribeirão Preto, SP
Reprodução EPTV
A informação também foi confirmada à EPTV, afiliada da TV Globo, por uma empresa de alta tecnologia aeroespacial de São José dos Campos (SP).
De acordo com a empresa, o objeto flagrado tem trajetória compatível com a de um foguete chinês chamado longa marcha, utilizado para lançar satélites na órbita baixa.
A suspeita é de que ele teria perdido altitude mais rapidamente e reentrado na atmosfera, quando se encandeou. Por isso, o brilho no céu parecendo uma bola de fogo. Como ele se desintegrou no ar, não ofereceu riscos.
Mas afinal, qual a diferença entre estrela cadente, meteoro, meteorito e lixo espacial? Nesta quarta-feira (21), o g1 conversou com Euclydes Marega Júnior, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), para esclarecer a diferença entre os corpos celestes.
Marega, que também é coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica, explica que estrela cadente é o nome popular para objetos que caem do céu.
“Estrela cadente e meteoro são a mesma coisa. Agora, o que é a estrela cadente? Pode ser o meteoro, pode ser pedaço de objetos, de um satélite ou de um foguete. Tem várias possibilidades”, esclarece.
No entanto, é improvável que a “estrela” vista na noite de segunda-feira (19) seja um meteorito, segundo o professor. Isso porque há uma diferença fundamental entre meteoros e meteoritos.
“Meteoro é um objeto que não chega até a superfície da terra. A luz que você vê é a queima dele na atmosfera. Ele entra, queima, produz aquela luz, mas não chega na Terra. Já o meteorito, pela característica dele, de ser maior ou ser composto de um material diferente, ele queima, só que uma parte ou partes dele, dependendo se quebrar ou não, consegue chegar na atmosfera”.
Ao chegar na superfície terrestre, os meteoritos podem causar estragos. Por isso, ainda segundo o professor, exceto que tenha caído em um lugar muito remoto, é improvável que o clarão observado no céu nesta semana seja um desses corpos celestes.
“Se ele cair em uma casa, por exemplo, vai quebrar tudo. Pode ser até que mate alguém. É muito raro acontecer isso, acontece a cada centenas de anos em algum lugar que geralmente é remoto ou no oceano”, diz Marega.
LEIA TAMBÉM
Bola de luz no céu é registrada por moradores na região de Ribeirão Preto, SP
‘Nunca tinha visto algo parecido’, diz moradora que flagrou bola de luz no céu em Ribeirão Preto, SP
Da onde vem a crença de que estrelas cadentes realizam desejos?
Na terça-feira (20), o vídeo do menino Christian Henrique, de 10 anos, viralizou nas redes sociais. O garoto brincava na rua quando viu a bola de luz no céu e, ao se convencer de que se tratava de uma estrela cadente, já garantiu o pedido: “quero ser rico”.
De acordo com Marega, o costume vem do fato de que o fenômeno é difícil de ser visto.
“Os mais antigos diziam isso: se você ver uma estrela cadente, significa que você está com sorte, então faça um desejo. Por que é sorte? Talvez você, durante sua vida, veja uma ou duas estrelas cadentes, ou seja, meteoros. Porque é um evento muito rápido. Quando acontece, geralmente a pessoa não percebe, só se for uma coisa muito brilhante”, diz o professor.
De onde vem o nome “estrela cadente”?
Vem do fato do objeto estar caindo na atmosfera e, de longe, se parecer com uma estrela. “É um objeto que queima e brilha, então é parecido”, afirma Marega.
A rigor, as estrelas são corpos celestes com luz própria que não caem do céu. As esferas gigantes são compostas de gases que, graças à gravidade, podem se manter vivas por trilhões de anos.
Chuvas de meteoros são chamadas de estrelas cadentes
NASA/F. Bruenjes
Queda de meteoros é um evento raro?
Apesar de ser difícil ver uma estrela cadente, a queda de um meteoro não é, necessariamente, um evento raro. “Em 24h, tem dezenas dessas coisas caindo na Terra. Só que elas são pequenas, às vezes, caem muito rápido e ninguém vê”, esclarece Marega.
Por isso, também é possível até mesmo prever o fenômeno em certas situações. “Em agosto sempre tem chuva de meteoros porque a Terra passa em uma região do espaço com esses fragmentos, que acabam entrando no planeta”, diz o professor.
Fragmentos de velhos satélites e foguetes podem cair na Terra com o passar do tempo
Reuters via BBC
O que é lixo espacial?
Podem ser partes de satélites em órbita ou de foguetes lançados da Terra. O professor da USP explica que hoje há milhares de satélites no espaço e cada um deles tem uma vida útil.
Após o fim deste período ou caso o objeto apresente um mau funcionamento, perde-se o controle dele, já que, ao longo do tempo, ele perde velocidade e a tendência é que caia novamente na Terra.
Além disso, para colocá-los em órbita, é necessário lançar um foguete. Geralmente, nessa operação, uma parte do foguete cai no mar e a outra parte vai até o espaço para lançar o satélite.
“Geralmente, as empresas sabem onde jogar esse pedaço de foguete. Existem normas internacionais: eu lancei o foguete, tenho que jogar essa parte no oceano onde não passa navio, avião, não passa nada. Mas talvez, alguém tenha jogado um foguete e ele ficou lá, esquecido, rodando, até cair também”, explica.
Há chances de um meteorito cair na Terra?
Sim, há, mas elas são bastante remotas. O espaço, ao contrário do que o senso comum possa pensar, não é um lugar vazio: ele é cheio de “poeira”, fragmentos que vagam pelo espaço desde a formação do Sistema Solar.
Só que neste caso, um grão de poeira significa pedras de dezenas de quilos.
“Existem grãos de poeira de 1 km de diâmetro. Se esse aí cair na Terra, vai acabar com o planeta. É possível cair isso aí? É, existem fragmentos, que ficam no cinturão entre Marte e Júpiter, mas isso é bem monitorado e difícil de acontecer”, explica o professor Marega.
Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca
VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região

Adicionar aos favoritos o Link permanente.