Vencedor celebra Prêmio LED e expansão de projeto que ajuda alunos de 1,5 mil cidades a entrar na universidade


‘Veio na hora certa’, afirma o estudante de economia Vinicius de Andrade, de Ribeirão Preto, que sonha em ampliar ainda mais atuação do ‘Salvaguarda’. Desde 2017, programa oferece correções de redações, monitorias de disciplinas, atendimento psicológico e auxílio na obtenção de bolsas. Vinícius de Andrade, do projeto Salvaguarda, com seus padrinhos Tiago Abravanel e Evelyn Castro
Globo/ Paulo Belote
Um dos vencedores do prêmio do Movimento Luzes na Educação (LED) 2023, o projeto Salvaguarda mudou bastante desde a sua criação em 2017: se antes a iniciativa se limitava à região de Ribeirão Preto (SP), hoje, alunos de todo o Brasil podem contar com o suporte para buscar uma vaga nas universidades públicas ou pela bolsa integral do ProUni.
No início, o Salvaguarda auxiliava em torno de 1,4 mil estudantes da região de Ribeirão Preto. Cinco anos depois, na última edição em 2022, foram 11.810 alunos inscritos de 1.557 cidades brasileiras.
“De uma cidade do interior de São Paulo pra conquistar quase um terço do país. Eu tenho bastante orgulho dessa expansão”; diz Vinícius de Andrade, estudante de economia da USP e fundador do Salvaguarda.
O vencedor da categoria “Estudantes” do Prêmio LED 2023 se trata de um programa social de auxílio para jovens da rede pública brasileira que reúne um conjunto de funcionalidades que promovem a interação direta dos estudantes com as universidades públicas.
São cerca de 1,5 mil voluntários que oferecem correções de redações, monitorias de disciplinas, atendimento psicológico e tutorias com orientações sobre inscrições sobre processos seletivos, bolsas, cronogramas de estudo, entre outros. Tudo isso gratuitamente e online.
Ajudar tantos estudantes não é uma tarefa fácil. Por isso mesmo, Andrade celebra o prêmio no valor de R$ 200 mil e já se prepara para os próximos passos. Entre os planos futuros, estão conseguir ter possibilidades financeiras dentro do programa, o que inclui evoluir para um modelo em que os voluntários possam ser pagos para desenvolver um aplicativo próprio para o projeto. A meta é saltar de milhares de estudantes atendidos para milhões.
“Ele veio na hora certa. Eu quero que esse dinheiro seja um impulsionador do Salvaguarda”, afirma.
Vencedores no palco da premiação no Movimento Luz na Educação 2023
Globo/Ellen Soares
Expansão nacional
A expansão nacional do Salvaguarda ocorreu dentro do contexto da pandemia de Covid-19. Por conta do isolamento social, o programa precisou se adaptar ao online, o que permitiu que o modelo fosse escalonado para todo o país.
Andrade explica que, antes da pandemia, o Salvaguarda funcionava como uma parceria. Ele procurava a coordenação dos colégios da região e oferecia esse conjunto de funcionalidades durante o ano.
Na época, alguns dos serviços oferecidos eram feitos de maneira manual, como a correção das redações. O projeto entregava pacotes com folhas de redação nas escolas parceiras, e os professores pediam para os alunos produzirem os textos.
Após a produção, Andrade recolhia as redações e escaneava uma a uma para a equipe corrigi-las. Ele conta que já chegou a escanear 2 mil textos sozinho.
“Era um modelo que eu amava, mas eu sabia, no fundo do meu coração, que muito dificilmente seria escalonado”, conta.
Com a pandemia, esse modelo mudou e passou a ser completamente online. A partir daí, a parceria com os colégios deixou de ser feita: os alunos devem se inscrever para receber o auxílio através do site do projeto. Foi quando Andrade percebeu que o Salvaguarda poderia atender estudantes de todo o país e buscou divulgar a iniciativa na mídia.
A estratégia deu certo, mas também trouxe novos desafios para os voluntários.
Alunos são estimulados a escrever redações pelo projeto Salvaguarda, de Ribeirão Preto
Rodolfo Tiengo/G1
Todas as regiões
Antes, o projeto reunia e divulgava informações das universidades do estado de São Paulo, como a USP, Unicamp e Unesp. A partir de 2020, o Salvaguarda precisou abranger informações sobre os exames e políticas de permanência das 154 instituições públicas do Brasil; além de ajudar jovens a conseguir cursar faculdades particulares com bolsa integral do Prouni.
“Se eu estou falando de um aluno do Amazonas, por exemplo, existem aqueles que vêm para cá, mas antes dele conhecer a USP, a Unicamp a Unesp, ele tem que conhecer a Universidade Federal do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas, a Universidade Federal do Pará”, explica Andrade.
Por isso, hoje a equipe do Salvaguarda conta com voluntários de todas as universidades públicas do Brasil, além daqueles de faculdades particulares. Aliás, este é o único pré-requisito para atuar como voluntário: ter ou estar na graduação.
Cada um dos voluntários, segundo Andrade, colabora para fazer a ligação entre estudantes e o ensino superior. “A gente se torna em 2020 a maior ponte existente entre esses dois agentes”, afirma.
Para os interessados, as inscrições para ser um tutor estão abertas até o dia 14 de maio no site.
Site do Salvaguarda lista todas as 154 universidades públicas do Brasil separadas por região
Reprodução/Salvaguarda
Esperança na educação
O Salvaguarda é fruto da indignação de Andrade. Já na USP, o estudante de economia realizou uma pesquisa em 2016 em quatro escolas públicas de Ribeirão Preto, onde constatou que mais de 90% dos estudantes do último ano do ensino médio queriam ingressar no ensino superior, mas menos de 20% tinham informações sobre os meios de ingresso.
Andrade percebeu que a falta de informação poderia ser uma das grandes razões para a baixa quantidade de alunos da rede pública em universidades públicas. Durante as visitas às escolas na época, ele conheceu a psicológa Hariff Eleonora Barbosa, e juntos, constataram um sonho em comum de mudar o Brasil por meio da educação.
Para fazer isso, a metodologia do Salvaguarda trabalha com três pilares: motivação, conteúdo e informação. Isso é o que diferencia o programa de um cursinho popular. O projeto não oferece aulas, mas sim monitorias de disciplinas. Desta forma, cada aluno é atendido de maneira particular, personalizada e horizontal.
O trabalho do Salvaguarda, inclusive, complementa o trabalho realizado por cursinhos populares de todo o Brasil. Mas apesar de toda essa mobilização, a iniciativa ainda esbarra em alguns obstáculos, entre eles, a desvalorização.
“As pessoas têm uma tendência a não valorizar muito ações que não têm um custo direto financeiro”, revela Andrade.
O estudante de economia Vinicius de Andrade, fundador do projeto Salvaguarda, em Ribeirão Preto
Rodolfo Tiengo/G1
Falta de apoio familiar
A desinformação sobre as universidades públicas atinge não apenas os estudantes de ensino médio, mas também suas famílias. A falta de apoio nesse âmbito é, muitas vezes, uma realidade para os jovens.
Segundo Andrade, muitos familiares não entendem por que o estudante está em busca de uma universidade pública em vez de optar por uma particular e trabalhar e estudar ou simplesmente ingressar no mercado de trabalho sem passar pelo ensino superior, já que a maioria desses jovens é de baixa renda.
“Surgem perguntas como: ’por que você está fazendo cursinho? E se não passar? E se passar e não conseguir emprego? E se passar e tiver se enganado”, exemplifica o fundador do Salvaguarda.
Por conta de histórias assim, o Salvaguarda conta com uma equipe de apoio psicológico e tenta contornar fatores externos que possam desmotivar os alunos.
“É muito difícil ser o primeiro da família a tentar entrar em uma universidade, é muito desafiador. Porque os nossos pais protegem a gente com as informações que eles têm à sua disposição”, diz.
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Processo árduo
Após a pandemia, os voluntários têm notado um déficit de atenção crescente nos alunos acostumados com o imediatismo das redes sociais, o que é mais um desafio que o Salvaguarda vem tentando enfrentar. “Eles estão ficando cada vez mais desatentos. Eu tenho um medo muito grande no futuro”, diz Andrade.
Um exemplo disso é o processo seletivo do Salvaguarda, que, na verdade, é bastante simples: o aluno precisa se inscrever no site e, depois, participar de uma reunião virtual para apresentar o programa, que será marcada de acordo com a disponibilidade dos inscritos. Depois, é só apresentar os documentos necessários. Ainda sim, muitos desistem.
“Não temos prova, não temos taxa, não temos pagamento. Mas o Salvaguarda filtra mais da metade dos alunos porque não leram o edital”, explica.
O processo de aprendizagem muitas vezes provoca medo nos estudantes, que na maioria já possuem uma defasagem de ensino em relação aos alunos da rede particular de ensino. Fazê-los entender que é preciso tentar, errar, corrigir para, enfim, aprender, é um desafio. “Alguns nunca fizeram isso antes e é muito difícil fazer aos 18 anos pela primeira vez.”.
Mas as mais de 1,2 mil aprovações de estudantes do projeto em universidades públicas não deixam Andrade e os demais voluntários sentirem medo dos desafios.
“Aprendizagem é isso: começar do zero, se for necessário”, diz Andrade.
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