Conduta de conselheira que atuou no caso de crianças que pularam de apartamento em Ribeirão Preto, SP, é alvo de apuração


Conselho Tutelar considera que procedimento adotado por Marlene Colombo na visita ao apartamento onde estavam os irmãos, de 9 e 6 anos, não é padrão. Meninos ficaram feridos com a queda. A conselheira tutelar Marlene Colombo atua em Ribeirão Preto, SP
Cacá Trovó/EPTV
A conduta da conselheira tutelar Marlene Colombo no caso dos irmãos de 9 e 6 anos, que pularam da janela do segundo andar do apartamento onde vivem, em Ribeirão Preto (SP), será investigada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).
Isso porque o órgão considera que ela agiu isoladamente e o procedimento adotado não é padrão do Conselho Tutelar. Se comprovada falha na atuação, ela pode receber desde uma advertência, até mesmo suspensão e perda do mandato de conselheira.
Em nota, o Conselho Tutelar I, onde atua Marlene, pediu desculpas pelo atendimento “falho e incomum”.
“O Conselho Tutelar não é um órgão policialesco que captura crianças, mas sim um órgão de defesa de direito de crianças e adolescentes e auxílio de suas famílias e, por isso, pede DESCULPAS para toda sociedade em razão do atendimento falho e incomum ocorrido”.
Marlene foi procurada pela EPTV, afiliada da TV Globo, mas informou que não iria se pronunciar.
Presidente do CMDCA, Renan Paulo Quirino Lopes, disse que o órgão foi notificado sobre a ocorrência dos fatos e a Comissão de Supervisão Administrativa do Conselho vai analisar o caso.
“Verificando, dentro da construção técnica, a atuação equivocada ou não da conselheira, isso é apresentado à plenária do CMDCA. Após a apresentação, delibera sobre a abertura ou não de um processo administrativo disciplinar. Sendo favorável a abertura do processo administrativo disciplinar, se abre uma comissão especial para verificar, e aí, deliberar sobre as ocorrências do fato, e aí poder acarretar em três situações: advertência, suspensão e até mesmo a perda do mandato”.
Renan Paulo Quirino Lopes, diretor do Departamento de Proteção Social Especial e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Ribeirão Preto, SP
Sérgio Oliveira/EPTV
Insatisfação com atuação
Quirino revelou que, em contato com outros conselheiros, o órgão apurou insatisfação por conta da atuação de Marlene no caso.
“Há uma certa insatisfação por conta de toda a situação que acarretou e até mesmo o ataque, que a própria instituição do Conselho Tutelar tem sofrido. Eles [os conselheiros] têm se manifestado de uma forma não favorável e desejam dar o encaminhamento das informações ao CMDCA, que cabe ao CMDCA fazer todo esse trabalho de verificação e, posteriormente, punição ou não dos fatos”.
As crianças pularam da janela do apartamento, que fica na zona Sul de Ribeirão Preto, na manhã de quinta-feira (20), após a chegada da conselheira.
A mãe delas, a cabeleireira Geslaine Thomaz Castilho alegou à Polícia Civil que os filhos estavam sozinhos no momento porque ela não tem com quem deixá-los enquanto trabalha.
Ela afirma que chegou a pedir ajuda para o Conselho Tutelar para matricular os filhos em uma escola de período integral, mas não foi atendida.
Geslaine Thomaz Castilho deixa DDM em Ribeirão Preto, SP, ao lado do advogado
Cacá Trovó/EPTV
Segundo Marlene, uma denúncia anônima de maus-tratos, violência doméstica e cárcere privado teria motivado a visita dela ao local.
Geslaine nega as acusações e teme perder a guarda dos filhos, que estão, provisoriamente, com uma tia.
A delegada Patrícia de Mariani Buldo, responsável pelo caso, vai apurar o que motivou os meninos a pularem pela janela.
“Alguma coisa assustou, né? Com medo de ficar dentro da casa, acharam que era mais seguro, entre aspas, pular. Precisa ver o que causou esse susto nessas crianças para elas pularem”.
Delegada Patrícia de Mariani Buldo, DDM de Ribeirão Preto, SP
Cacá Trovó/EPTV
Crianças pularam de uma altura de 3 metros
Os irmãos pularam da janela do apartamento da família na manhã de quinta-feira. A informação é de que o Conselho Tutelar foi acionado por vizinhos, que denunciaram que a mãe havia saído para trabalhar e deixado os dois filhos em casa.
Quando a equipe do Conselho Tutelar chegou ao imóvel, as crianças pularam do primeiro andar e sofreram uma queda de cerca de três metros.
O Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionados e socorreram as vítimas, que tiveram ferimentos leves. Elas foram levadas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leste.
Irmãos, de 6 e 9 anos, a caminho da escola antes das férias escolares em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
Investigação
A polícia apura, ainda, a informação passada por Marlene de que os meninos teriam marcas de violência pelo corpo.
“Segundo a conselheira tutelar, as crianças tinham algumas marcas que talvez confirmem a denúncia de maus-tratos. A conselheira observou que a casa tinha higiene precária e que havia pouca alimentação. Vai ser alvo de investigação para confirmar a denúncia de maus-tratos e eventual lesão corporal”, diz a delegada.
À polícia, a mãe disse que deixou os meninos com café da manhã preparado e que voltaria por volta das 11h para servir o almoço.
Ainda durante o depoimento, Geslaine afirmou que conta com a ajuda de uma vizinha para encaminhar os meninos à escola e recebê-los de volta na ausência dela. A mulher, que prefere não ser identificada, conta que nunca presenciou uma situação de maus-tratos e que, nos momentos de lazer, a cabeleireira fazia de tudo para agradar os filhos.
Geslaine é divorciada do marido, que mora em Santa Catarina. Segundo Vanderley Caixe Filho, advogado de defesa dela, o homem não tem contato com os filhos ou paga pensão.
Após prestar esclarecimentos à Polícia Civil, a mãe foi liberada e deve ser investigada pelas suspeitas de maus-tratos e abandono de incapaz.
Condomínio no Recreio das Acácias em Ribeirão Preto, SP, de onde crianças pularam da janela de um dos apartamentos
Reprodução/EPTV
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