O que é a Farmácia da Natureza, iniciativa premiada que estuda e produz fitoterápicos no Brasil


Jardim em fazenda de Jurucê, distrito de Jardinópolis (SP) que fica a 17 quilômetros de Ribeirão Preto (SP), é matéria-prima para produção de medicamentos à base de plantas medicinais. Projeto de Jardinópolis, SP, distribui medicamento fitoterápico para o SUS
Em Jurucê, distrito de Jardinópolis (SP) que fica a 17 quilômetros de Ribeirão Preto (SP), um jardim com cerca de 400 espécies tem um papel que vai além de compor a natureza. Ele é matéria-prima de um projeto chamado Farmácia da Natureza, que produz diversos medicamentos fitoterápicos e treina profissionais da saúde para o uso de plantas medicinais.
“Um fitoterápico é um medicamento produzido a partir de uma planta medicinal, seja ela inteira ou suas partes, e que é utilizada com finalidade de prevenção ou tratamento de uma doença”, afirma Fábio Carmona, médico do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto e coordenador do ambulatório pediátrico do projeto.
“Ele é um produto farmacêutico que tem qualidade, segurança e eficácia. Esse medicamento tem uma especificidade própria para que se possa indicar a um número grande da população brasileira”, complementa a química Ana Maria Pereira.
Projeto premiado
Em 2020, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) premiou a Farmácia Viva de Jardinópolis com o título de experiência exitosa em inovação, práticas integrativas e complementares em saúde.
Flor do cometa roxo é usada em fitoterápicos para ajudar a imunidade jardinópolis, SP
Marcelo Moraes/EPTV
O projeto tem parceria com universidades, fundos de pesquisa e com o próprio Sistema Único de Saúde (SUS). Ele surgiu há cerca de 30 anos com o objetivo de pesquisar os princípios ativos das plantas fornecer insumos para a rede pública.
“A Farmácia da Natureza contribui com o Brasil formando profissionais, capacitando profissionais para a prescrição, a produção e o cultivo de fitoterápicos. Em parceria com a USP, a gente oferece cursos de formação pra profissionais, formamos grupos de municípios que querem implantar farmácias vivas no país. Eles vêm aqui com o apoio do Ministério da Saúde para aprender a tecnologia e levar para os seus municípios”, afirma Carmona.
Se os chás com receita das avós garantem alívio para muitos males, a ciência já comprovou a eficácia de muitas dessas plantas cultivadas nos canteiros da fazenda. De acordo com Carmona, no Brasil existem dois grupos de fitoterápicos: os conhecidos popularmente e os já certificados por estudos.
“São aqueles historicamente utilizados pela população e cuja segurança e eficácia são embasadas no registro histórico dessa utilização. Esses ainda precisam de revisão, que nós façamos os estudos clínicos para validar definitivamente, mas eles podem ser utilizados.”
Alecrim é usado na produção de anti-inflamatório na Fazenda da Natureza em Jardinópolis, SP
Marcelo Moraes/EPTV
Critérios rigorosos
Do local, saem cápsulas, cremes, xaropes, chás e diversos outros tipos de medicamentos, tudo distribuído gratuitamente. Quatro produtos são disponibilizados ao SUS em Jardinópolis: o chá de espinheira santa, a tintura de passiflora, o creme de cordia e o xarope de guaco.
Por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), todo processo de manipulação segue critérios rigorosos. De acordo com Carmona, o fitoterápico não é um produto caseiro. Ele tem rigor desde a produção das mudas, das plantas, do cultivo até a preparação do produto.
“A gente observa nos insumos da droga vegetal e no produto acabado a presença dos compostos: flavonoides, alcaloides, as classes químicas e que ele pode auxiliar no tratamento e no benefício ao paciente”, diz a biotecnóloga Mirani Rocha Gonçalves.
Produção de fitoterápicos na Fazenda da Natureza em Jardinópolis, SP
Marcelo Moraes/EPTV
Ainda segundo os especialistas, a produção de um fitoterápico exige o uso de plantas que já foram estudadas. Na fazenda, todas as espécies estão devidamente catalogadas. Uma forma de organizar o trabalho e também de ter certeza que aquilo que está sendo usado é mesmo da planta desejada.
“Existem portarias que regulamentam a produção desse tipo de medicamento, então eles têm tanta qualidade quanto um medicamento alopático”, diz a farmacêutica Ivanice Cestari Dandaro.
Saúde com segurança
As sementes de ashwagandha ajudam quem enfrenta a ansiedade. Do alecrim pode sair um poderoso chá anti-inflamatório e a folha do dente de leão é ótima para doenças do fígado. Já da flor do cometa roxo é feito um dos fitoterápicos mais usados no mundo, para ajudar com a imunidade.
Farmacêutica mostra produção de fitoterápicos na Fazenda da Natureza em Jardinópolis, SP
Marcelo Moraes/EPTV
“Prescrevemos os fitoterápicos quando há indicação, especialmente para problemas emocionais. As crianças que são muito agitadas por causa do excesso de tela, celular, por exemplo, doenças alérgicas são muito bem controladas com fitoterápicos”, diz Carmona.
O médico ressalta, no entanto, que assim como os medicamentos alopáticos, os fitoterápicos oferecem riscos se usados de maneira inadequada.
“Há uma crença errada de que é natural e não faz mal. Isso é um grande engano. Os fitoterápicos, se forem utilizados de maneira inadequada, podem causar efeitos adversos graves, doenças muito graves. É muito importante que sejam usados de maneira racional e, preferencialmente, orientado por um profissional de saúde que tenha treinamento para isso.”
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