Enfermeiro que perdeu R$ 30 mil ao tentar vender carrinho de bebê diz que golpista ainda ofereceu advogado: ‘Humilhado e triste’


Um dia depois de golpe, Enio Paulino Barbosa Rodrigues foi procurado por mulher interessada no produto, que disse que também era vítima e queria ajudá-lo a reaver dinheiro perdido, se ele enviasse Pix. Enio Paulino Barbosa Rodrigues, enfermeiro de Ribeirão Preto, perdeu quase R$ 30 mil em golpe ao tentar vender carrinho de bebê
Jefferson Neves/EPTV
Após perder quase R$ 30 mil em um golpe ao tentar vender um carrinho de bebê pela internet, o enfermeiro Enio Paulino Barbosa Rodrigues, de 39 anos, de Ribeirão Preto (SP), diz que está se sentindo humilhado, triste e lesado.
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O caso aconteceu na quarta-feira (5), quando ele fez o anúncio em um marketplace. Uma mulher entrou em contato interessada no produto, mas pediu que a negociação fosse feita em outra plataforma, de preferência dela. (veja mais abaixo)
“Eu não tenho como pagar as contas do mês, não sei o que fazer. Estou me sentindo humilhado, muito lesado, triste porque não estou conseguindo dispor o mínimo para a minha família. Foi tirado [dinheiro] do limite que eu tinha para pagar as minhas contas”.
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Segundo Enio, no dia seguinte após ter caído no golpe, a mesma mulher voltou a procurá-lo por meio de mensagens no celular, dizendo que ainda estava interessada no carrinho.
“Ela continuou fazendo contato comigo como se ainda fosse vítima, falou ‘nossa, mas que absurdo’, me pediu os comprovantes e falou, a frieza dela, que estava com o advogado próximo e que poderia ajudar no processo e que, se eu fizesse um Pix de tanto, que automaticamente, em 24 horas, o advogado conseguiria fazer esse estorno do valor na minha conta”.
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Arquivo pessoal
Enio perdeu o dinheiro após dar acesso à tela de celular aos golpistas, que passaram a realizar transferências via Pix e fazer empréstimos entre 18h e 22h, que foi quando o enfermeiro desistiu da negociação do carrinho de bebê e entendeu que tinha caído em um golpe. Até então, ele não tinha percebido o dinheiro sendo retirado das contas.
Advogado de Enio, Diego Alvim disse que pretende acionar a Justiça, uma vez que os horários e valores das transferências não condizem com o comportamento do enfermeiro.
“Ele está muito afetado, como todas as outras pessoas que passam por esse golpe. Nunca na história bancária dele, ele tinha feito um Pix em um valor tão alto. Em uma escala de probabilidade, qual a probabilidade de ele estar fazendo estes empréstimos e estes Pix naquela hora da noite?”
Procurado pela EPTV, O Santander, um dos bancos que Enio é correntista, disse, por meio de nota, que em casos de suspeita de fraude, golpe, roubo, furto de cartão ou dispositivo móvel, recomenda aos clientes entrarem em contato imediatamente com a Central de Atendimento, SAC ou Ouvidoria para relatarem o ocorrido e para que tudo seja apurado internamente.
O Bradesco informou que, por questão de sigilo bancário, casos que envolvem golpes aplicados por terceiros são tratados diretamente com o cliente.
A EPTV também procurou o aplicativo de compra e venda, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
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Golpista convenceu enfermeiro a mudar de plataforma
Na quarta-feira (5), o enfermeiro anunciou a venda de um carrinho de bebê pelo valor de R$ 1 mil em um marketplace e conta que, na sequência, uma mulher se mostrou interessada na compra, mas pediu que ele mudasse o anúncio para um aplicativo que ela estava acostumada a usar.
“Eu anunciei em um marketplace, uma pessoa me fez contato e falou ‘olha, você tem essa plataforma pra gente fazer a transação? Porque eu uso essa plataforma, já tem valor pré-estabelecido lá e, pra mim, seria interessante'”.
Enio disse que chegou a pensar que se trataria de fraude, mas quis dar um voto de confiança à pessoa interessada.
“Fiz um cadastro nessa plataforma e, após o cadastro, ela falou ‘olha, provavelmente, se você tiver alguma dificuldade, o pessoal vai te auxiliar, o pessoal é bem legal quanto a isso’ e falou ‘provavelmente, para garantir a transação, o pessoal vai te pedir um valor x porque, senão, vai vender e eu vou perder o carrinho'”.
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Reprodução/EPTV
Ainda segundo o enfermeiro, após o cadastro finalizado, uma pessoa que se dizia ‘parceira’ do aplicativo entrou em contato via WhatsApp dizendo que o ajudaria nos trâmites para receber o valor pedido pelo carrinho.
Enio disse que esta pessoa pediu R$ 199, uma ‘taxa’ para novos usuários, e enviou um link por e-mail para que ele entrasse na conta bancária para fazer a transação. Os golpistas utilizaram um aplicativo para suporte de TI, que espelha telas e dá livre acesso para manuseio. (veja mais abaixo)
“Eu desconfiei pelo fato de fazer pagamento pra garantir qualquer tipo de serviço. O link era pra fazer o pagamento e entrei no meu banco e fiz o pagamento”.
A partir daí, os golpistas tiveram acesso à tela de celular de Enio e, como ele estava com o aplicativo do banco em uso, os criminosos passaram a realizar transferências e empréstimos.
O enfermeiro perdeu R$ 30 mil e ainda descobriu outros dois lançamentos agendados para abril e maio nos valor de R$ 5 mil cada um, que conseguiu cancelar.
Tela espelhada
Enio também revelou que, em contato com os bancos onde é correntista, ouviu que os valores não seriam devolvidos porque partiram da conta dele. Um boletim de ocorrência foi registrado.
Especialista em cibersegurança, Vinicius Olivério explica que criminosos conseguiram acessar as contas bancárias do enfermeiro por meio de um aplicativo utilizado para suporte de TI, que espelha as telas de computadores e celulares para ajudar na resolução de um problema.
“O pessoal de TI usa bastante porque, às vezes, o usuário, a pessoa que está usando um computador de uma empresa tem algum problema, então fica muito mais fácil esse técnico acessar e auxiliar nesse problema. Esses aplicativos dão controle total do dispositivo para a pessoa que fez o acesso, então, esse bandido fez o acesso ao celular com esse aplicativo e pode abrir o aplicativo bancário, navegar sobre as informações e até realizar transações”.
Segundo ele, foi por meio do link enviado ao e-mail de Enio que os golpistas tiveram total acesso ao conteúdo do celular pessoal dele, mesmo não estando com ele no momento das transações.
“Faz com que ele baixe esse aplicativo, compartilhe a tela, acesse seu aplicativo bancário e ,depois que você acessou, ele consegue entrar ali, fazer empréstimos, transações, fazer o que quiser”.
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