Taxas pós-fixadas, subsídios, consórcios estruturados: como bancos compensam alta dos juros no crédito rural


Estratégias visam operações com alíquotas abaixo da Selic, mantida a 13,75%. Instituições financeiras consultadas pelo g1 querem disponibilizar cerca de R$ 10 bilhões na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). Negociações em estande da Agrishow 2023 em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
A alta nas taxas de juros é um dos desafios do setor agrícola brasileiro em 2023 e não seria diferente, na Agrishow, maior feira de tecnologia do campo da América Latina, realizada em Ribeirão Preto (SP) esta semana.
A mais nova projeção da Selic, a taxa básica de juros da economia mantida nesta quarta-feira (3) em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária (Copom), mantém encarecido o acesso ao crédito necessário para a compra de equipamentos e insumos no campo – na última edição da feira, ela estava na casa dos 12%.
De financiamentos com taxas pós-fixadas a contratos subsidiados com taxas pré-fixadas, a consórcios estruturados que agilizam o tempo de contemplação, os bancos e cooperativas presentes na feira apresentam alternativas para tentar compensar esse cenário.
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Com essas estratégias (entenda, abaixo, algumas delas), juntas, ao menos quatro instituições financeiras na feira consultadas pelo g1 esperam disponibilizar mais de R$ 10 bilhões em recursos a partir do evento no interior de São Paulo.
Mesmo com redução de recursos do Banco do Brasil para este ano, o valor corresponde a um aumento de 25% com relação ao realizado na feira em 2022.
Sede do Banco Central em Brasília
Raphael Ribeiro/BCB
“O que motiva essa projeção é basicamente a busca do produtor por novas soluções, é uma feira bem importante para o país, aqui tem novas tecnologias, uma série de implementos, máquinas, coisas que ajudam o produtor a melhorar a qualidade de vida, a melhorar a qualidade de sua produção, e a gente tem tido aqui uma boa procura do produtor por novas tecnologias”, afirma Gustavo Freitas, diretor de crédito do Sicredi.
As expectativas também são otimistas para a Cresol, que participa pelo quinto ano consecutivo do evento em Ribeirão Preto. “É a primeira vez que ela [a cooperativa] vem muito forte, oferecendo muita linha de crédito barata para aquisição de máquinas, para custeio, para todo tipo de produto que tem aqui. A gente está trazendo recursos de BNDES, muitos recursos de repasse com taxa barata, com carência”, afirma Ronaldo Mazzoni, gerente regional.
Com expectativa de superar R$ 11,2 bilhões em negócios, a Agrishow reúne 800 expositores e espera cerca de 200 mil pessoas até sexta-feira (5).
Negociações no estande do Santander, na Agrishow 2023
Alex Roda/Divulgação
Taxa pós-fixada
Para tentar oferecer uma taxa mais atrativa aos clientes, o Santander tem como um de seus carros-chefes uma linha que oferece uma indexação de juros pós-fixada, projetada, segundo a instituição financeira, para ficar abaixo dos 13% nos próximos anos, com base na tabela Focus, relatório divulgado semanalmente pelo Banco Central com base em projeções do mercado.
Nela, o cliente paga a parcela anual de acordo com a taxa daquele período. Para o fim de 2024, por exemplo, o banco prevê juros anuais a 11%.
“É uma linha mais longa, que espelha uma linha de BNDES, e a gente tem olhado muito pra Selic mais longa. Quando a gente olha a precificação do Bacen [Banco Central] para os próximos anos da Selic, é um pouco de queda ainda este ano, o ano que vem em queda, e assim sucessivamente. Então a gente tem apostado muito nas linhas pós-fixadas”, afirma Ricardo França, head de agronegócios da empresa.
Máquina gigante chama atenção no parque tecnológico da Agrishow 2023 em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Segundo ele, mesmo em um cenário que possa mudar, o produtor que assina esse tipo de contrato tem a opção de fazer a liquidação antecipada.
“É uma linha que não tem penalti de saída, se já vier uma outra linha mais barata ou uma linha subsidiada ele pode pegar e pode liquidar. O que a gente tem falado com os produtores é: quanto custa você esperar a máquina até julho e você ter a máquina agora pra você fazer sua safrinha? Se fizer sentido, faça agora que a gente espera lá na frente, se a gente vai ter alguma linha subsidiada e a gente pode refazer essa operação”, explica.
Taxas prefixadas subsidiadas
Outra alternativa que pode interessar aos potenciais compradores são os contratos de financiamento com taxas pré-fixadas, mas com operações que permitem juros abaixo da Selic.
Caso do Bradesco, que ao fazer um subsídio cruzado com concessionárias e fabricantes, consegue entregar uma taxa na casa dos 12%, semelhante à Moderfrota, linha de financiamento do BNDES voltado à compra de máquinas como tratores, colheitadeiras e pulverizadores, por exemplo. Parte do custo da operação fica com o banco e não é repassado ao produtor.
“Tem que entender o momento certo do produtor, se a modalidade atende alguns fabricantes. Tem alguns fabricantes que não têm margem, produto, para poder absorver parte do custo financeiro do financiamento”, afirma Roberto França, diretor de agronegócios do banco.
g1 mostra Agrishow 2023 em fotos
Consórcios
Conhecido por ter taxas bem mais baixas do que a de um financiamento, o consórcio tem, via de regra, a questão do tempo como uma desvantagem para a aquisição. E é por isso que, entre algumas das instituições bancárias participantes da Agrishow, uma alternativa tem sido realizar operações estruturadas que reduzem a espera pela contemplação do bem ou com algum tipo de benefício que torne a modalidade ainda mais interessante para quem pode esperar um pouco mais.
No Santander, a contemplação pode ocorrer em até 120 dias e ocorre por meio da distribuição de cartas de crédito em diferentes grupos. A taxa aplicada é a partir de 11,25% e é referente a todo o período de contratação, que pode variar entre 36 e 92 meses, para compras de máquinas, equipamentos e energia renovável acima de R$ 500 mil.
Além disso, o banco oferece um desconto de 20% na taxa de administração. “Como são consórcios maiores, são consórcios em que o lance embutido é maior, a gente dá essa tranquilidade de que em até 90, 120 dias, a gente consegue contemplar as cartas”, afirma Ricardo França.
No Bradesco, o cliente também pode comprar várias cotas distribuídas por grupos diferentes para acelerar o sorteio. As taxas de administração, outro atrativo, têm um custo de 15% para todo o período de aquisição. Segundo o diretor de agronegócios do banco, essa é uma modalidade também é indicada para produtores rurais fechando contratos como pessoa física.
“Para financiar uma máquina que custa R$ 1 milhão eu trabalho 20 cotas de consórcio de R$ 50 mil. A gente faz uma proposta onde acelera o processo de sorteio através de lances, então a gente libera 20 cotas de consórcio e ele soma as 20 cotas de consórcio e compra uma máquina em um prazo de três meses”, exemplifica Roberto França.
No Sicredi, o produtor que pretende adquirir uma máquina está recebendo benefícios como um desconto de 30% como forma de estímulo, segundo Gustavo Freitas, diretor de crédito da cooperativa.
“Nesse período da safra a maior parte dos recursos é a taxas livres, então a gente tem enfrentado aí esse desafio de um patamar de juros mais altos, não só com produtos de crédito, mas fornecendo outras soluções também. É uma coisa que está muito forte na feira e em feiras anteriores, como por exemplo crédito para energia solar. Temos também produto de consórcio, com uma condição diferenciada, isso para ajudar o produtor”, afirma.
Público percorre ruas da Agrishow 2023 em Ribeirão Preto, SP, e levanta poeira
Érico Andrade/g1
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