Pecuária de confinamento: o que é e qual importância da modalidade no mercado brasileiro de gado de corte


Entre 2020 e 2024, produtores otimizaram em 4% utilização de ração para criação de bovinos, aponta relatório da Cargill, com dados que representam 30% do setor. Estratégia representa 21% da pecuária brasileira, segundo CNA/Senar. [SUBIR VÍDEO ID 13518730]
O Brasil é um dos maiores produtores de carne bovina do mundo. Apenas atrás dos EUA, o país responde por quase 20% da produção global, montante que representou quase 12 milhões de toneladas em 2024, segundo o USDA, departamento de agricultura norte-americano.
Embora menos representativa do que a modalidade a pasto, predominante em território nacional, a pecuária de confinamento tem ganhado espaço no fornecimento de gado de corte.
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O confinamento tem pelo menos 21,3% na participação do abate para obtenção de carne bovina no país, segundos o último relatório do projeto “Campo Futuro”, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
Pecuária de confinamento no Brasil
Divulgação
Um relatório divulgado este mês pela Cargill – o Benchmarking Confinamento Probeef -, com base em um levantamento com quase 250 pecuaristas que respondem por 30% dessa modalidade em território nacional, apontam um crescimento de 4% na eficiência biológica, ou seja, com uma menor quantidade de ração necessária para a criação de cabeças gado aptas para o corte (veja mais abaixo).
Práticas como a utilização de tecnologias de automação e inteligência artificial também se destacam entre os melhores produtores do país.
“O Brasil é o segundo maior país confinador do mundo. A gente perde só para os Estados Unidos e isso às vezes chama atenção porque somos um país tropical, em que chove, a nossa pecuária é voltada ao pasto, mas o confinamento vem ganhando força porque a pressão pelo uso da terra está muito grande. Eu tenho que aumentar a produtividade, que encurtar o ciclo produtivo, e o confinamento se torna uma estratégia rápida de engorda, mais efetiva. Isso fez com que esse mercado brasileiro seja hoje crescente”, afirma Felipe Bortolotto, gerente de tecnologia de bovinos de corte da Cargill.
Nos tópicos a seguir, entenda as principais características da pecuária de confinamento e os principais resultados obtidos com os produtores nos últimos anos, com base em uma pesquisa de realizada pela Cargill que representa 30% do setor.
A utilização do confinamento de bovinos é uma realidade crescente na pecuária brasileira
Alfri Ribeiro – Getty Imagens
O que é a pecuária de confinamento?
O confinamento é uma das modalidades da pecuária em que os criados em áreas restritas, currais onde recebem a alimentação no cocho. Diferentemente da extensiva, onde os animais se alimentam de pasto, no confinamento a dieta é controlada e composta por ração concentrada. Entre os principais pontos fortes estão:
Aumento de produtividade;
Mercado crescente;
Profissionalização e tecnologia: a busca por maior eficiência tem levado à adoção de tecnologias, como softwares de gestão, automação de trato e inteligência artificial (como o uso de drones para monitoramento do bem-estar animal);
Flexibilidade: o confinamento permite ajustar a produção de acordo com as condições de mercado. Em momentos de baixa no valor da arroba, por exemplo, os produtores podem reduzir os ciclos.
Segundo Bortolotto, o confinamento é uma estratégia utilizada para criação de animais depois de uma fase de desenvolvimento inicial, por volta dos 18 meses de vida, quando o gado já é considerado um adolescente.
“Você pode escolher terminar ele a pasto e com baixa suplementação, que é o extensivo, você pode escolher terminar mantendo ele no pasto e dar muita ração, que é o semiconfinamento, terminação intensiva, ou você tira esse bicho do pasto e o põe no confinamento e salva o pasto, porque o colocou dentro de um ambiente fechado e você vai fornecer toda a comida no coxo”, explica.
Pecuária de confinamento representa um quinto da criação de gado de corte brasileira
AcervoEP
Quais os principais mercados do Brasil?
Em 2024, os principais mercados de exportação do Brasil foram a China e a União Europeia. Somente no estudo realizado pela Cargill, 57% dos animais participantes foram para esses dois destinos. Esse percentual inclui 7% de destinação para países da chamada Cota Hilton, ou seja, com cortes bovinos de alta qualidade destinados a países da Europa e provenientes somente de países credenciados como o Brasil.
Japão e Vietnã também são apontados como consumidores promissores do gado brasileiro criado em confinamento.
Qual é o nível de produção e qual o ganho de eficiência?
Estima-se que, atualmente, a pecuária de confinamento no país tenha cerca de 7,5 milhões de cabeças de gado, um número que vem aumentando na última década. Segundo a CNA/Senar, em 2018, por exemplo, eram 3,8 milhões de cabeças.
Segundo o relatório da Cargill, realizado com donos de 2,3 milhões de cabeças de gado, ou seja, quase a metade desse universo, nos últimos cinco anos, as criações em confinamento tiveram um ganho de 4% na eficiência biológica.
Em 2020, cada arroba produzida, em média, demandava 151,7 quilos de matéria seca consumida pelo animal. Em 2024, esse mesmo peso foi obtido com apenas 145,9 quilos de ração.
Entre os criadores mais bem sucedidos, essa eficiência é ainda maior, com uma aplicação de 134,6 quilos de ração por arroba produzida.
“Isso quer dizer que o animal ingeriu menos quilos de matéria seca para conseguir produzir uma arroba. Um boi que produziu 7,6 arrobas, em média, no confinamento comeu 145 quilos de matéria seca para produzir uma arroba. Quanto menor esse número, melhor”, explica Jonas Acedo Daltrini, consultor técnico de bovinos de corte da Cargill.
O tempo de permanência no cocho, para obtenção de peso para o abate, também diminuiu de 113 para 109 dias, o que tem relação com o aumento da demanda pelo consumo face o aumento de custos para os pecuaristas observado no ano passado, antes de uma retomada após o segundo semestre.
As arrobas produzidas, por sua vez, quase se mantiveram no mesmo patamar – 7,6 contra 7,8 – mesmo com a redução no peso médio da carcaça de 20,8 para 20,07 entre 2020 e 2024. Entre os produtores mais bem sucedidos do país na pecuária de confinamento, a quantidade de arrobas obtidas por cabeça chegou a 8,6.
“No ano passado, o primeiro semestre foi muito difícil economicamente para a cultura de corte, ou seja, a margem estava muito baixa e a turma estava trazendo um custeio do ano de 2023 muito pesado. Então a turma estava assim (…) gira rápido para girar o estoque que está pesado para entrar no novo ciclo. Esse foi um ponto”, afirma Bortolotto.
Na pecuária de confinamento, animais têm alimentação controlada em cochos
AcervoEP
Quais práticas ajudam no ganho de eficiência?
Segundo os especialistas, esse ganho de eficiência na pecuária de confinamento está atrelada a alguns fatores, entre eles:
Melhoramento genético
Manejo de cocho
Inteligência artificial e automação
Segundo Daltrini, uma das práticas adotadas pelos produtores de sucesso é a leitura noturna do cocho, que permite entender se adequar melhor à rotina e às necessidades dos animais. De acordo com o consultor, os clientes da empresa que utilizaram essa técnica economizaram R$ 33 por criação.
“O produtor que faz a leitura de cocho noturna, que usa informações de trato dos animais, que usa informações de período de cocho dos animais, que afere a sobra de dieta que teve no cocho, tem uma melhoria de eficiência produtiva de 4 kg de matéria seca por arroba colocada”, diz.
O uso da automação em processos, como na reposição do trato alimentar, também faz a diferença, segundo Daltrini. Isso acontece, porque há uma maior garantia de precisão dos números e uma facilidade na rotina do criador.
“Os confinamentos que têm automação de tratos, que conseguem minimizar erros durante a operação, conseguem 10 kg de matéria seca a menos em eficiência frente a quem não usa automação. Para traduzir isso, é o cara que engorda o mesmo boi tendo um lucro de quase R$ 80 reais a mais frente a quem não usa”, explica.
Nesse contexto, alguns dos pecuaristas mais bem sucedidos também se utilizaram de drones equipados com inteligência artificial que criam índices de bem-estar animal com base em fotografias e que geraram um lucro adicional de R$ 65 por boi.
Com base nisso, segundo Bortolotto, os melhores clientes listados pelo relatório proporcionam mais espaço por metro quadrado por boi do que o restante do mercado.
“Os animais precisam ter bom acesso a água, bom acesso a comida e ter espaço para descansar. E quando começo a tirar uma foto todo dia com drone e eu treino a IA para resolver isso, eu faço um paralelo com o diagnóstico por imagem da medicina humana. Não erra”, diz.
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