Ebulição global e catástrofes: como o aumento da temperatura provoca chuvas torrenciais e prejudica as populações vulneráveis


Mudanças climáticas devem intensificar eventos extremos ao redor do mundo. Veja como temática pode cair no vestibular. Como o aumento da temperatura provoca chuvas torrenciais e prejudica vulneráveis
Entre fórmulas e conceitos que às vezes parecem tão abstratos, na hora do vestibular cabe ao candidato fazer as conexões necessárias para relacionar a teoria das aulas com a realidade que o cerca.
Muito disso se deve porque há explicação científica para grande parte dos fenômenos que observamos na natureza, por mais cotidianos e familiares que eles pareçam. Por exemplo, quando a previsão do tempo da TV diz que vai chover em uma cidade: existe ciência por trás disso. ⛈️
Chuvas intensas, crescimento urbano desordenado e má ocupação do solo contribuem para formação de enchentes
Reprodução/Jornal Hoje
E se essa chuva for intensa, fruto de uma série de mudanças climáticas que atingem todo o planeta, é hora do vestibulando prestar atenção. Além de relevante, o tema é cobrado em diversos exames, que relacionam a dinâmica do aquecimento global e a desigualdade social atrelada ao fenômeno. ✍️
⏩ Para ajudar a contextualizar teoria e prática na hora da prova, o g1 conversou com o professor de geografia Daniel Simões Oliveira, do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante, para entender como as mudanças climáticas e as chuvas intensas podem atingir a população (assista acima).
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Estragos da chuva
🌴 Em um país tropical como o Brasil, não faltam exemplos dos impactos que chuvas intensas. No início de 2023, temporais causaram mortes e deixaram centenas de desabrigados no litoral sul de São Paulo. Já em setembro, um ciclone extratropical devastou o Rio Grande do Sul. A tendência é que o problema se agrave ainda mais.
“Cada vez mais, a gente tem certeza de que as mudanças climáticas globais vão intensificar eventos catastróficos, que vão se tornar mais destrutivos e mais frequentes”, diz o professor Oliveira.
Aquecimento global derrete calotas polares no Ártico
Getty Images/BBC
🔥🌍 Ebulição global
Dentro da comunidade científica é praticamente incontestável que existe uma participação humana na mudança de temperatura do planeta terra. O relatório de 2023 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização composta por mais 10 mil cientistas ao redor do mundo e ligado à ONU, aponta que o planeta passou da fase do aquecimento e já está na ebulição global.
O que isso significa? 🤔
O professor de geografia explica que, quando falavam em “aquecimento global”, os cientistas se referiam às mudanças crescentes na atmosfera terrestre e que ainda poderiam ser contidas por uma estratégia rápida de redução dos gases de efeito estufa. ♨️
O grande problema é que essa estratégia não aconteceu.
Seja por motivos econômicos, políticos, negacionistas – ou tudo isso junto –: a sociedade não conseguiu reagir na velocidade necessária para frear o aquecimento global. Agora, o fato é que não dá mais pra voltar atrás. 🔁
“Nós chegamos em uma condição em que o aumento da temperatura global já não é visto como uma possibilidade; é visto como uma certeza. O nosso grande desafio é ver até que ponto a gente consegue diminuir esse ritmo de aquecimento”, diz Oliveira.
Frio intenso na região da Avenida Paulista, na zona central de São Paulo
WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO
Esquenta e esfria 🥵❄️
Apesar do nome, quando se fala em aquecimento (ou ebulição) global, as consequências do fenômeno não se restringem apenas ao calor extremo. São duas coisas diferentes: em média, a temperatura do planeta está 1,1º mais quente do que na era pré-industrial. Isso não significa que o mundo inteiro está mais quente.
“Apesar da gente ter uma tendência de elevação da temperatura média do planeta, isso não significa que simplesmente todo o planeta vai esquentar. Algumas regiões talvez até fiquem mais frias. Outras vão ficar muito mais chuvosas e, outras, mais secas”, explica o professor Oliveira. 🏜️
A questão é que essa variação de temperatura interfere no deslocamento das massas de ar. O calor excessivo no Brasil, por exemplo, interfere na dinâmica atmosférica e pode enviar mais ar quente para a Antártida o que, por sua vez, deixa o caminho livre para que o ar polar venha para cá e provoque uma onda de frio extremo. 🥶
“Extremos”, inclusive, é uma palavra chave quando se fala de mudanças climáticas. Dos ciclones às secas, das ondas de calor que congestionam os hospitais na Europa e Estados Unidos ao frio recorde que mata moradores em situação de rua em São Paulo, os eventos atípicos deixam um rastro de destruição ao redor do globo.
Entenda a crise do clima em gráficos e mapas
Vilões? 🦹😡
O aumento da temperatura no planeta está intimamente ligado à emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO²) e o metano (CH₄). Isso não quer dizer que eles sejam os vilões da história. No máximo, são os anti-heróis.
O efeito estufa é um fenômeno natural e fundamental para a manutenção da vida na Terra. Esses gases atuam na atmosfera impedindo que uma parte da energia solar entre na atmosfera e, depois, retendo parte do calor no planeta. ☀️
Em outras palavras, eles são os responsáveis pela gente não queimar nem congelar (até agora, pelo menos).
O problema é que a ação humana tem sobrecarregado a atmosfera com gases desse tipo. Nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a queima de combustíveis fósseis pela indústria libera quantidades absurdas de CO². 🏭 Já no Brasil, isso ocorre, majoritariamente, através das queimadas e da pecuária. 🐂
Diante desse cenário, o futuro não parece ser positivo. O cenário mais otimista do Acordo de Paris, a iniciativa global mais consistente para tentar conter o aquecimento global, prevê um aumento de 1,5º C até o final deste século.
Ainda sim, as consequências dessa estimativa mínima já são bastante graves. O IPCC aponta ondas de calor, chuvas torrenciais, furacões, perda de alimentos e derretimento de calotas polares no Ártico. 🧊
Deslizamento de terra na Rocinha
Reprodução/TV Globo
☔ Chove e não molha?
Em tese, o aumento de temperatura atinge o planeta inteiro. Porém, na prática, nem todo mundo que está na chuva vai ‘se molhar’. “As consequências desse tipo de mudança climática são generalizadas, mas é claro que elas atingem as populações de forma distintas”, afirma Oliveira.
A nível global, é provável que os países que mais emitem gases de efeito estufa sejam os menos afetados pelas catástrofes climáticas, justamente por terem maior disponibilidade de recursos para contornar essa situação com estratégias de mitigação.
A nível local, a situação se repete e as chuvas são um ótimo exemplo disso.
Não é à toa que, ano após ano, notícias de deslizamentos de terra que provocam mortes e deixam milhares desabrigados protagonizam os jornais. Isso porque, além das chuvas, o crescimento urbano desordenado e a má ocupação dos solos intensifica as catástrofes. 🌪️
O professor de geografia explica que quando a água atinge a superfície da terra, há, a grosso modo, dois caminhos: ou ela é absorvida pelo solo ou ela escoa. “Quando a água infiltra no solo, não temos grandes problemas. Ela vai recarregar o lençol freático, abastecer nascentes”, explica Oliveira.
O problema é que as intervenções humanas têm feito com que cada vez menos água infiltre o solo. Quando a água não é absorvida, ela escoa, ou seja, acumula na superfície formando enxurradas e intensificando o processo erosivo.
Isso atinge partes mais baixas das cidades e locais próximos aos rios. Em outras palavras, áreas de risco onde geralmente moram pessoas mais vulneráveis.
Para piorar, a nível individual, não há muito a ser feito para reduzir os impactos das chuvas. O ideal seria que as pessoas não morassem nesses locais, mas a desigualdade social não permite um conselho tão simplista.
“A maioria das pessoas que moram nesse tipo de terreno não é, exatamente, por opção. As possibilidades de escolha são muito limitadas para grande parte dessa população”, afirma o professor.
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