Entenda como inteligência artificial ajuda a detectar vazamentos de água não visíveis em Franca, SP


Gestor de perdas da Sabesp explica ao g1 como a tecnologia que apresenta redução de custos e maior precisão e agilidade nos rastreamentos funciona. Kaio Augusto Ferreira de Oliveira, agente de saneamento ambiental
Divulgação/Sabesp Franca
A inteligência artificial tem ajudado a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), empresa responsável pelo abastecimento de água na região de Franca (SP), a detectar vazamentos não visíveis nas redes de distribuição da região.
O sistema usa os sons gerados pela perda de água como material para identificar e localizar pontos de vazamentos que não afloram nas ruas.
A partir desta coleta de dados, os geofonistas, profissionais responsáveis em detectar vazamentos da Sabesp, conseguem encontrar os pontos de perda de água com mais facilidade. A técnica já se provou bastante útil.
“Conseguimos fazer distâncias muito maiores em menos tempo, e com efetividade maior”, diz o gestor de perdas da Sabesp de Franca, Fernando Colombo.
O g1 ouviu o especialista para entender melhor como esse sistema funciona e como ele pode ser utilizado para evitar perda de água nos municípios da região.
Nesta reportagem, você vai entender como a inteligência artificial consegue detectar vazamentos não visíveis nos tópicos abaixo.
Como era o trabalho antes da inteligência artificial?
Como a inteligência artificial pode ajudar nas varreduras?
Como essa tecnologia foi criada?
Como fica o trabalho dos geofonistas?
Qual o nível de acerto da inteligência artificial?
Qual o principal desafio para implantar essa tecnologia?
Por que é tão importante localizar esses vazamentos?
Há planos de expandir a técnica para mais cidades?
Fachada da Sabesp de Franca, SP
Divulgação
1.Como era o trabalho antes da inteligência artificial?
A procura por vazamentos não visíveis costumava ser bem mais trabalhosa por meio da identificação de ruídos. Para isso, são utilizadas hastes de escuta, instaladas nos pontos de ligação das casas.
Essas hastes, postas nos cavaletes, ampliam o som dos possíveis vazamentos. Os geofonistas, profissionais especializados em encontrar os vazamentos, fazem varreduras noturnas para encontrar pontos problemáticos.
O trabalho é feito à noite pois neste período, além de haver menos ruídos externos que possam atrapalhar, a pressão das tubulações são maiores e o ruído fica mais alto. Ainda assim, a investigação pode falhar.
“Às vezes o geofonista está cansado, passa um vazamento, um ruído, o ouvido está cansado e ele não escuta”, explica Colombo.
Mauro Duarte Magalhães e Eurípedes de Andrade, geofonistas da Sabesp de Franca
Divulgação/Sabesp Franca
2.Como a inteligência artificial pode ajudar nas varreduras?
Com a nova técnica, as hastes de escuta receberam um sistema eletrônico que grava o ruído do vazamento. Esses sons são passados para um aplicativo no celular, que fica com o profissional que está fazendo a coleta de dados.
No final da noite, os sons coletados nos pontos são jogados para um banco de dados na nuvem onde o algoritmo compara as gravações com um banco de dados composto por mais de 2 milhões de sons de vazamentos.
A partir dessa comparação, o algoritmo indica os pontos em que há suspeita de vazamento.
“E ele é inteligente porque se ele ver que aquilo é um vazamento novo, que ele não tinha, ele consegue agregar. Aumenta o banco de dados dele, então é realmente uma inteligência artificial”, pontua o gestor de perdas.
Diagrama mostra o fluxo de trabalho da inteligência artificial para detectar vazamentos em Franca, SP
Fernando Colombo/Sabesp Franca
3.Como essa tecnologia foi criada?
O sistema de reconhecimento de sons foi criado pela Startup Stattus4, parceira da Sabesp. Os testes da nova tecnologia foram iniciados em novembro de 2020 e apresentaram resultados promissores logo de início.
Com o tempo, a coleta de dados foi aperfeiçoada, dando mais agilidade e precisão aos rastreamentos. A Sabesp, além de fornecer mão de obra, fez algumas adequações sistema.
“A tecnologia passou por ajustes para funcionar. A gente fez algumas adaptações e aí a coisa rodou bem legal”, explica Colombo.
Essas adaptações foram no sentido de incluir os geofonistas no fluxo de trabalho para identificar os vazamentos. “Ele é o investigador. A gente traz indícios pra ele, e ele dá a certeza pra gente.”
4.Como fica o trabalho dos geofonistas?
Embora o novo sistema permita que a coleta dos sons das hastes possa ser feita por qualquer funcionário, os geofonistas continuam sendo uma parte essencial para identificar os vazamentos.
“A tecnologia veio e agregou muito, mas sozinha, ela não dá conta. Precisa dessa expertise humana”, garante Colombo.
Após o sistema identificar os pontos suspeitos, os dados são enviados para um segundo aplicativo, responsável por elaborar um roteiro. A partir deste roteiro, os geofonistas conseguem percorrer apenas os pontos suspeitos durante a noite.
“Em vez de ele andar a noite inteira, ele vai só nos pontos que ele tem que confirmar o vazamento ou não. Então a gente tem um ganho de rendimento muito grande”, afirma o gestor de perdas.
A tecnologia elenca, em média, de dez a 15 pontos por noite. De acordo com o gestor de perdas, ela não chega a dar os locais exatos, mas as referências indicadas já possibilitam a pesquisa de uma área duas vezes maior em um mesmo período de tempo.
“Agora o geofonista está sendo aproveitado com o que ele conhece mesmo, que é investigar aquele ponto de vazamento”, diz o gestor.
5.Qual o nível de acerto da inteligência artificial?
Segundo Colombo, a ferramenta costuma acertar de 70% a 80% dos vazamentos. O índice, por si só, não revela muita coisa: um geofonista que percorre dez pontos, por exemplo, e acerta oito, já teria o mesmo nível de assertividade. No entanto, a inteligência elenca mais pontos suspeitos.
“Quando eu faço com esse equipamento, ele não acha dez, ele acha 20, e 80% de 20 já é muito mais, então eu tenho uma efetividade muito maior”, explica o gestor de perdas.
Os próprios funcionários relataram o aumento na efetividade, pois com a ferramenta passaram a identificar vazamentos que não conseguiriam escutar na varredura convencional. “O equipamento eletrônico é muito mais eficiente, ele consegue filtrar muito melhor que o ouvido humano”, diz.
Geofonistas da Sabesp rastreiam vazamentos não visíveis com ajuda de inteligência artificial em Franca, SP
Divulgação/Sabesp Franca
6.Qual o principal desafio para implantar essa tecnologia?
Para que o programa tivesse sucesso, a Sabesp teve que oferecer treinamentos para os funcionários, já que as equipes estavam habituadas a fazer o trabalho de forma manual e o uso de smartphones é imprescindível para o sistema.
Adaptações com mobilização de gerentes, engenheiros, integrantes do setor operacional foram necessárias, mas o foco foi a inclusão digital dos geofonistas. “Tinham alguns que não sabiam mexer no celular, e tudo se baseia no aplicativo. Hoje, eles dominam a ferramenta e é incrível ver essa evolução”, diz Colombo.
O primeiro passo, segundo o gestor de perdas, foi trabalhar a aceitação da nova tecnologia, já que, para alguns, havia o medo de que a inteligência artificial pudesse substituí-los.
“A gente conseguiu fazer isso aqui porque eles entenderam que nada funciona sem eles”, afirma.
Kaio Augusto Ferreira de Oliveira, agente de saneamento ambiental
Divulgação/Sabesp Franca
7.Por que é tão importante localizar esses vazamentos?
Os vazamentos são um dos problemas graves no combate às perdas de água que vem dos mananciais e são jogadas para a rede de distribuição, e achá-los, especialmente quando eles não são visíveis, são um desafio para a Sabesp.
Em épocas de estiagem, prevenir vazamentos pode ajudar a garantir o abastecimento de água das cidades. De acordo com Colombo, a diminuição da perda de água é mais vantajosa do que fazer novos investimentos e criar novas captações.
Essa ideia também pode ser comprovada em números: de acordo com a companhia, os custos financeiros anuais em pesquisas de vazamentos foram reduzidos em mais de 50% após a instalação com programa com inteligência artificial. Em São João da Boa Vista (SP), por exemplo, cidade do interior de São Paulo onde a Sabesp já utiliza a tecnologia, foi registrada economia superior a 100 litros de água por ligação por dia.
Além disso, a localização e manutenção de vazamentos não visíveis diminui exponencialmente os casos de novos rompimentos e vazamentos nas redes de abastecimento, pois combate os pontos vulneráveis do sistema de distribuição.
Estação de tratamento de água da Sabesp em Franca, SP
Reprodução/EPTV
8.Há planos de expandir a técnica para mais cidades?
Sim, há. Atualmente, além de Franca, a técnica já está sendo utilizada em outros municípios da região, como Pedregulho (SP), Jeriquara (SP), Ribeirão Corrente (SP), Igarapava (SP) e São João da Boa Vista (SP). Segundo Colombo, o programa também está sendo implantado em Aguaí (SP) e Mococa (SP).
O trabalho começou há cerca de 15 dias e já mostra os primeiros resultados: com menos perda de água, é necessário captar menos dos mananciais. “Tirando todo esses vazamentos a gente fica mais tranquilo para o abastecimento”, diz o gestor de perdas.
O objetivo é que o programa seja implantado em todos os municípios atendidos pela Sabesp. “A intenção é que seja adotado no interior todo, porque é uma ferramenta muito boa”, afirma Colombo.
Mauro Duarte Magalhães e Eurípedes de Andrade, geofonistas da Sabesp de Franca
Divulgação/Sabesp Franca
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