Com benção de Rita Lee, Manu Gavassi diz que versão dela para ‘Fruto Proibido’ é homenagem, não responsabilidade


Em turnê com releitura de um dos principais discos da rainha do rock brasileiro, cantora afirma que o trabalho é uma celebração à obra de Rita, sem peso extra após morte de ídola. A cantora Manu Gavassi
Alli Zao
Ao ser convidada para o projeto Acústico MTV, a cantora Manu Gavassi não teve dúvidas de que, enfim, havia encontrado o momento e o local perfeitos para a realização de um sonho: gravar a sua versão do álbum “Fruto Proibido”, eternizado por Rita Lee em 1975. O que ela não sabia é que, com o trabalho, perpetuaria a presença musical da rainha do rock brasileiro nos principais palcos do país, mesmo após sua morte.
O show “Manu Gavassi canta Fruto Proibido”, lançado quase três meses antes da morte da artista, acabou se transformando em uma turnê, na qual Manu busca celebrar a vida de uma de suas grandes inspirações, sem deixar que ganhe o peso de uma obrigação.
“Eu acho que estou me divertindo como nunca antes em um palco. Então, só quero poder imprimir isso, viver o momento e celebrar a obra da Rita. Acredito que celebrar a música dela tinha que ser feito de qualquer maneira. Mas não quero dar nenhum peso extra. Por isso, tento sempre deixar nesse lugar de homenagem e tirar a responsabilidade”, diz a cantora, pedindo licença para sair do sério e aproveitar o momento.
O show passa por Ribeirão Preto (SP) no sábado (3), quando Manu Gavassi se apresenta no Palco Aquarela do João Rock.
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Manu Gavassi na turnê de Fruto Proibido
Alli Zao
Decisão impensada
A vontade de colocar sua voz nas composições de “Fruto Proibido” não veio só da oportunidade de homenagear Rita Lee. Na verdade, foi a sensação de que as letras de um dos seus álbuns favoritos “falavam” com o momento de vida que estava vivendo.
“Então, foi uma decisão bem ‘impensada’, vou dizer assim, no sentido de ter sido muito afetivo, muito por conta do meu amor a essa obra. E ainda bem que eu fiz, porque acho que foi o projeto que eu mais me diverti fazendo. Mas desenvolvê-lo em, basicamente, um mês foi um grande desafio. Eu nunca tinha cantado, de fato, essas músicas. Só no chuveiro”, lembra Manu.
Manu Gavassi no palco com a turnê Fruto Proibido
Alli Zao
Sucessos do começo ao fim
Para o repertório, entraram todas as nove canções do disco considerado uma obra-prima do rock brasileiro, entre elas “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roque Enrow”, “Pirataria” e “Ovelha Negra”. O trabalho tem duas músicas extras, consideradas irresistíveis para Manu: “Lança-perfume” e “Mutante”.
“Essa é uma música que gosto muito, porque tem um saborzinho agridoce, um fator ironia que eu amo. Afinal, é uma canção que teoricamente fala sobre um amor perdido, mas, conhecendo a Rita, é sobre bem mais que isso”, analisa.
Diante de tantos sucessos, Manu considera que o show nasceu meio pronto, com foco total na obra da rainha do rock. Mas, para adicionar um sabor especial à apresentação, decidiu também colocar algo propriamente seu no palco.
“Eu acho que esse show está pronto e, sinceramente, nem é sobre mim. É sobre a minha vivência de uma obra que não é minha, que transcende a minha existência. As duas músicas minhas que coloquei na sessão de extras, que foram ‘Gracinha’ e ‘Bossa Nossa’, coloquei porque acho que têm tudo a ver com esse álbum. Coube super bem”, explica a cantora, revelando, inclusive, que o conceito do clipe de “Bossa Nossa” foi completamente inspirado na capa do álbum “Fruto Proibido”.
Sem o peso da responsabilidade
Quando foi lançado, o disco de Rita Lee bateu recorde de vendas e, desde então, se firmou como um marco na história da música brasileira, principalmente porque a intérprete também foi a compositora e a produtora das canções.
Parte de outra geração, nascida quase quatro décadas depois, Manu Gavassi busca honrar esse legado, que vem sendo apropriado por novos públicos.
“Faço homenagem a uma mulher que abriu portas para eu poder ousar ser quem eu sou hoje. Como artista, me imagino um dia nesse lugar e penso: ‘Nossa, que feliz que eu vou ser, se isso acontecer comigo também. Eu acho que esse é o poder da música”.
É nesse clima leve e mais inspiracional que ela faz suas apresentações, também com a satisfação de ter conhecido a rainha do rock e recebido a sua “benção” em mais de uma ocasião. Inclusive, recentemente, Manu voltou a se emocionar ao descobrir que havia sido citada na nova autobiografia de Rita Lee, lançada em 22 de maio.
“Eu nunca teria feito essa homenagem se não tivesse a benção dela. A gente teve pequenas trocas ao longo dos anos e a que eu mais fico feliz de lembrar é que ela assistiu ‘Gracinha’, meu álbum visual, antes de todo mundo e mandou uma mensagem muito carinhosa. Depois, fiquei sabendo que ela assistiu duas vezes ao show. Enfim, saber que Rita já sabia do meu amor, acompanhava meu trabalho de alguma maneira e me deu a benção para esse projeto foi muito lindo”, conta.
O mesmo motivo faz a intérprete dessa releitura de “Fruto Proibido” não entender o projeto como uma responsabilidade – mesmo que, normalmente, seja a primeira a se cobrar por isso. Para ela, o maior sentimento é de gratidão de ter tido essa ideia quando Rita Lee ainda estava viva e, agora, poder continuar mantendo sua obra nos palcos.
Manu Gavassi e a banda formada por mulheres para o trabalho Fruto Proibido
Alli Zao
Autenticidade
Embora de diferentes gerações, Manu Gavassi não esconde que Rita é uma inspiração de mulher, artista, criadora e, sobretudo, de coragem e autenticidade para ela.
“Ela ousou ser autêntica e criou uma carreira em cima disso. Enquanto artista, transitou em diversas frentes, porque já pensava muito além do repertório. Rita Lee pensava em tudo. Em como apresentar, em como fazer de uma maneira performática, com irreverência. Acho que é a artista mais diferente que temos no nosso cenário musical e é isso que tanto me inspira. Ela ser uma artista que não se contenta em ficar em uma caixinha, que experimenta fazer o que tem vontade. Nisso eu me identifico”, confessa.
A cantora e atriz também aposta nessa mesma ousadia na sua carreira e para conseguir novos públicos, ao mesmo tempo em que se recusa a acreditar na ideia de se adaptar para agradar os outros e evita criar expectativas sobre o que vão pensar – considerando-se bem-sucedida em ambos os quesitos.
“Acho que temos que ser quem somos e, se agradar, que bom, que ótimo. Não tenho expectativa nenhuma. Estou tentando viver assim agora. Porque acho que é muito mais legal a gente se surpreender”.
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