Advogado de mãe de crianças que pularam de apartamento em Ribeirão Preto, SP, critica abordagem de conselheira: ‘Desastrosa’

Segundo Conselho Tutelar, procedimento adotado por Marlene Colombo na visita não é padrão. Polícia apura o que motivou ação de meninos, que se feriram com a queda. Vanderley Caixe Filho, advogado em Ribeirão Preto, SP
Sérgio Oliveira/EPTV
O advogado Vanderley Caixe Filho, que defende Geslaine Thomaz Castilho, criticou a abordagem da conselheira tutelar Marlene Colombo aos filhos da cabeleireira, de 9 e 6 anos. As crianças pularam da janela do apartamento onde vivem, em Ribeirão Preto (SP), enquanto a mulher conversava com elas. O caso aconteceu na manhã de quinta-feira (20).
À polícia, Marlene disse que esteve no local para apurar uma denúncia anônima de maus-tratos, violência doméstica e cárcere privado que seriam cometidos por Geslaine. A cabeleireira nega as acusações.
Segundo Caixe, a conselheira teria esmurrado a porta do apartamento, insinuando que ia abri-la, o que pode ter assustado as crianças.
“Conversando com as crianças por meio da porta, ela começa a esmurrar e insinuar que vai abrir. Neste momento, as crianças se assustam e pulam da janela. Uma abordagem completamente desastrosa e isolada por parte da conselheira. Ela não conversou com nenhum conselheiro, não foi uma decisão colegiada como deve ser, porque o procedimento é este. Como uma ‘vingadora de filmes de ação’, resolve tomar a realidade nas mãos e fazer justiça”.
Delegada responsável pelo caso, Patrícia de Mariani Buldo informou que vai apurar o que motivou os meninos a tomarem a atitude.
“Alguma coisa assustou, né? Com medo de ficar dentro da casa, acharam que era mais seguro, entre aspas, pular. Precisa ver o que causou esse susto nessas crianças para elas pularem”.
Procurada pela EPTV, afiliada da TV Globo, Marlene disse que não ia se pronunciar sobre o caso.
Conduta vai ser apurada pelo Conselho Tutelar
A conduta da conselheira também vai ser investigada pelo Conselho Tutelar, que considera que ela agiu isoladamente e o procedimento adotado não é padrão.
Se comprovada falha na atuação, segundo o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Marlene pode receber desde uma advertência, até mesmo suspensão e perda do mandato de conselheira.
A conselheira tutelar Marlene Colombo atua em Ribeirão Preto, SP
Cacá Trovó/EPTV
Presidente do CMDCA, Renan Paulo Quirino Lopes, disse que o órgão foi notificado sobre a ocorrência dos fatos e a Comissão de Supervisão Administrativa do Conselho vai analisar o caso.
“Verificando, dentro da construção técnica, a atuação equivocada ou não da conselheira, isso é apresentado à plenária do CMDCA. Após a apresentação, delibera sobre a abertura ou não de um processo administrativo disciplinar. Sendo favorável a abertura do processo administrativo disciplinar, se abre uma comissão especial para verificar, e aí, deliberar sobre as ocorrências do fato, e aí poder acarretar em três situações: advertência, suspensão e até mesmo a perda do mandato”.
O advogado da mãe das crianças disse que vai notificar o caso ao Ministério Público.
“Ela está maculando um órgão tão importante que é o Conselho Tutelar. Vamos notificar o MP o que vem acontecendo, as práticas que ela vem adotando, para que o MP tome as devidas providências”.
Ainda segundo Caixe, Marlene agiu de maneira irresponsável.
“A decisão dela foi completamente irresponsável, porque ela deveria acionar a SEMAS, o CREAS e tudo mais, e ela resolve tomar isso nas próprias mãos. As crianças fogem, porque não foi criada uma estrutura presente no local. Se ela tivesse agido de acordo com a lei, com os procedimentos, isso não teria acontecido”.
Crianças pularam de uma altura de 3 metros
As crianças pularam da janela do apartamento, que fica no Recreio das Acácias, na manhã de quinta-feira, após a chegada da conselheira.
Segundo Marlene, vizinhos denunciaram que a mãe havia saído para trabalhar e deixado os dois filhos sozinhos em casa.
Geslaine alegou à Polícia Civil que não tem com quem deixá-los enquanto trabalha e afirmou que chegou a pedir ajuda para o Conselho Tutelar para matricular as crianças em uma escola de período integral, mas não foi atendida.
Ela também nega as acusações e teme perder a guarda dos filhos, que estão, provisoriamente, com uma tia.
No dia do acidente, o Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionados e socorreram as vítimas, que tiveram ferimentos leves. Elas foram levadas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leste.
Condomínio no Recreio das Acácias em Ribeirão Preto, SP, de onde crianças pularam da janela de um dos apartamentos
Reprodução/EPTV
Investigação
A polícia apura, ainda, a informação passada por Marlene de que os meninos teriam marcas de violência pelo corpo.
“Segundo a conselheira tutelar, as crianças tinham algumas marcas que talvez confirmem a denúncia de maus-tratos. A conselheira observou que a casa tinha higiene precária e que havia pouca alimentação. Vai ser alvo de investigação para confirmar a denúncia de maus-tratos e eventual lesão corporal”, diz a delegada.
À polícia, a mãe disse que deixou os meninos com café da manhã preparado e que voltaria por volta das 11h para servir o almoço.
Ainda durante o depoimento, Geslaine afirmou que conta com a ajuda de uma vizinha para encaminhar os meninos à escola e recebê-los de volta na ausência dela.
A mulher, que prefere não ser identificada, conta que nunca presenciou uma situação de maus-tratos e que, nos momentos de lazer, a cabeleireira fazia de tudo para agradar os filhos.
Irmãos, de 6 e 9 anos, a caminho da escola antes das férias escolares em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
Geslaine é divorciada do marido, que mora em Santa Catarina. Segundo Vanderley Caixe Filho, advogado de defesa dela, o homem não tem contato com os filhos ou paga pensão.
Após prestar esclarecimentos à Polícia Civil, a mãe foi liberada e deve ser investigada pelas suspeitas de maus-tratos e abandono de incapaz.
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