Após 10 anos, condenado por matar manifestante em Ribeirão Preto deve ter progressão de regime até 2026, diz MP


Defesa diz que Aleksandro Ichisato de Azevedo já teria direito a liberdade provisória, mas recebeu falta grave ao negar transferência de penitenciária. Morte do estudante Marcos Delefrate completa 10 anos
Há exatos dez anos, uma noite de protestos terminava em tragédia em Ribeirão Preto (SP). o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, morreu após ser atropelado pelo empresário Aleksandro Ichisato de Azevedo, condenado a 64 anos de prisão pelo crime.
Outras quatro pessoas ficaram feridas no mesmo acidente. A pena foi reduzida para 18 anos e 8 meses e, em até dois anos, Ichisato deve ter direito à liberdade provisória, segundo o promotor Marcus Túlio Nicolino.
“Pelo que nós sabemos, para fins de progressão, ele só alcançará algum benefício no final de 2025 ou início de 2026”.
Para a defesa, o réu já teria direito a responder em liberdade. “Ele teria direito à progressão de regime desde o ano passado, quando foi aplicada uma falta grave porque ele se recusou a ser transferido de penitenciária”, afirma o advogado Wagner Severino Simões.
Carro do empresário Alexsandro Ichisato de Azevedo foi cercado por manifestantes em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
Segundo ele, Ichisato teria recusado a transferência para o regime semiaberto porque temia ser morto por causa de uma briga que ocorreu na penitenciária de Ribeirão Preto.
O empresário está preso desde julho de 2013, e atualmente cumpre a pena no presídio de Guareí (SP), na região de Sorocaba (SP).
Nos últimos dez anos, Ichisato tentou suicídio, se envolveu em brigas com presos e teve episódios de desrespeitos e insubordinação.
Além de recorrer das faltas graves, a defesa tenta também um pedido de revisão criminal para o réu, condenado por homicídio doloso e quatro tentativas de homicídio.
“Nós ainda entendemos que 18 anos é uma pena muito alta para o delito. A captação do delito, lá na origem, foi equivocada porque não se tratava de um homicídio doloso e sim de um homicídio culposo decorrente de um acidente de trânsito”, argumenta Simões.
Para o promotor, é improvável que a revisão seja feita.
“Ficou realmente estabelecido na época que nós não estávamos diante de um acidente de trânsito, mas sim de um homicídio e de outras quatro tentativas”, afirma Nicolino.
Prestes a concluir o Ensino Médio, Marcos Delefrate sonhava cursar engenharia mecânica
Igor Savenhago/G1
O caso
O atropelamento ocorreu no final do protesto em 20 de junho de 2013. Ichisato e a ex-namorada deixavam um supermercado em um veículo SUV, quando se depararam com os manifestantes no cruzamento das avenidas Professor João Fiúsa e Adolfo Bianco Molina, na Zona Sul de Ribeirão Preto.
O grupo pedia que o empresário recuasse, mas, depois de uma discussão, ele acelerou e avançou com o automóvel, atingindo Delefrate e outras 12 pessoas. O atropelamento foi gravado por manifestantes.
Na época, a Polícia Militar disse que 25 mil pessoas participavam da passeata com pedidos de mudanças políticas e econômicas.
A advogada Raquel Montero, uma das organizadoras do panelaço e do passe livre, comenta que o movimento estudantil perdeu força por causa de objetivos políticos.
“O movimento, naquele momento, surgiu com uma causa absolutamente justa, necessária e legítima, que era a reivindicação pelo passe livre. Ele foi levando a outras reivindicações que perderam o sentido do movimento e acabou sendo deturpado por interesses políticos, partidários”.
Raquel estava próxima ao local do acidente e diz que, naquela noite, o movimento estava no ápice.
“Quando ele passou a ser deturpado, perdeu totalmente o objetivo e atacar a política é um dos resultados negativos que a história já mostrou pra gente. Que levou, inclusive, ao desfecho que a gente viu aqui em Ribeirão: a morte de uma pessoa, outras pessoas feridas e a prisão de outra pessoa”.
Alexsandro Ichisato de Azevedo é acusado de atropelar e matar o estudante Marcos Delefrate durante protesto em junho de 2013 em Ribeirão Preto
Reprodução / EPTV
Manifestantes gravaram atropelamento
Em três vídeos incluídos no processo, é possível ver uma mulher conversando com Ichisato e pedindo que ele recue. Atrás dela, pessoas exaltadas ofendem o empresário. Um homem chega a dar um soco no para-brisa do carro.
Luzes vermelhas semelhantes a laser também são disparadas contra o rosto de Ichisato e da ex-namorada, que está no banco do passageiro.
Ele começa a recuar com o veículo e manifestantes, em coro, passam a gritar ofensas. Cartazes são levantados e, em uma das imagens, é possível ver um jovem – do lado direito do veículo – batendo um skate sobre o capô ao menos duas vezes.
Após o atropelamento, Ichisato fugiu sem prestar socorro às vítimas. O veículo foi apreendido na casa dele, em um condomínio na Zona Sul da cidade. Ele foi preso em 18 de julho de 2013, em uma clínica para dependentes químicos em Bragança Paulista (SP).
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