Após ser dado como morto em UPA de Ribeirão Preto, homem perde Bolsa Família e passa necessidade


José Roberto Pereira foi confundido com paciente homônimo que deu entrada no mesmo dia que ele na unidade e morreu. Corpo errado chegou a ser enviado para família velar. Com CPF anulado, ele ficou sem acesso a benefícios e a serviços públicos. Após ser dado como morto em UPA de Ribeirão, homem perde Bolsa Família e passa necessidade
Três meses após ser dado como morto em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ribeirão Preto (SP), José Roberto Pereira, de 58 anos, diz enfrentar necessidades. É que ele teve benefícios sociais cancelados e ficou sem renda. A falta do CPF impossibilitou até mesmo a retirada de medicamentos e de consultas na rede pública de saúde.
“Estou passando muita necessidade. Foi tudo bloqueado: meu nome, meu CPF. Inclusive na área da saúde eu não podia consultar, não podia pegar remédio, então ficou muito difícil para mim.”
Em março, José Roberto Pereira passou por atendimento na UPA Leste em Ribeirão Preto. Ele foi medicado e liberado, mas a família dele, que é Bebedouro (SP), acabou sendo comunicada que Pereira tinha morrido.
José Roberto Pereira foi dado como morto pela UPA de Ribeirão Preto, SP
Sergio Oliveira/EPTV
Familiares de Pereira estiveram na unidade para reconhecer o corpo, mas afirmam que foram impedidos do procedimento. O corpo então foi levado para Bebedouro, onde seria velado e enterrado.
No dia do enterro, Pereira esteve no endereço do trabalho do filho e acabou descobrindo que o rapaz não estava porque tinha ido ao velório do pai.
Vivo?
A solução mais rápida achada por Pereira foi ligar para a família para contar que estava vivo. Mas, para provar que era ele mesmo do outro lado da linha, foi necessário convencer a irmã a ir ao necrotério e ver quem aguardava ser colocado no caixão.
“Foi assim um filme de terror, porque eu já tinha passado muita dificuldade para conseguir enterrar meu irmão, para conseguir abrir uma cova, foi assim, resumindo, muito difícil”, afirma a auxiliar de saúde bucal Lourdes Pereira Liberato, irmã de Pereira.
José Roberto Pereira, de 58 anos, durante ligação para falar que estava vivo
Reprodução/EPTV
Erro causa prejuízo
Na época, a Secretaria Municipal de Saúde admitiu o erro e disse que a confusão se deu porque no mesmo dia em que Pereira deu entrada na UPA, a unidade confirmou a morte de um paciente homônimo a ele. A pasta, no entanto, negou que tenha impedido os familiares de fazerem o reconhecimento.
Pereira está vivo, mas perante as autoridades, deixou de existir. Desde que perdeu o benefício de R$ 600 do Bolsa Família, ele acumula dívidas e improvisa renda.
“Isso tudo por causa do mal entendido em março na UPA, que me deu como morto. [Hoje] eu vendo sacolinha pra me ajudar e sou taxado como vagabundo. Eu não consigo emprego e ninguém me dá emprego. Eu dependo do Bolsa Família, que é R$ 600. Estou devendo um armazém que está me quebrando um galho, me ajudando muito, mas eu preciso de ajuda. Eu não sei o que faço.”
Após perder benefícios sociais, José Roberto Pereira vende sacos de lixo para sobreviver em Ribeirão Preto, SP
Sergio Oliveira/EPTV
Além das dificuldades financeiras, Pereira ainda tem que lidar com a falta de sensibilidade das pessoas que tomam conhecimento da história.
“É chato, a pessoa dá risada, assusta. Eu passei muito constrangimento, vergonha, piada. Eu acho que a prefeitura tem que me ajudar, é o único jeito. Agora não tenho mais nada, só despesa aumentando e emprego eu não consigo. Eu estou desesperado.”
A família moveu uma ação na Justiça contra a Prefeitura de Ribeirão Preto por danos morais, mas ainda não há uma decisão.
O que diz a prefeitura
Procurada, a Prefeitura de Ribeirão Preto disse que ainda não foi notificada do pedido de indenização feito pelo paciente. Em março, a Secretaria Municipal da Saúde disse que indenizaria a família pelas despesas do velório em Bebedouro e também que iria investigar se houve falha no atendimento na UPA Leste.
Ao comentar o caso, no entanto, a prefeitura não informou qual foi o resultado da apuração.
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