Ciência para crianças: artigo da USP de Ribeirão Preto explica processo de regeneração dos dentes


Material publicado em revista científica aborda, por exemplo, como células-tronco podem ser usadas. Objetivo é incentivar o público infantojuvenil a se interessar pela ciência desde cedo. Pesquisadores da USP de Ribeirão Preto explicam como dentes podem ser regenerados em artigo científico para crianças
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Um grupo de pesquisa da Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto (SP) publicou um artigo científico que explica o processo de regeneração dos dentes para crianças.
No material, os cientistas revelam, por exemplo, como células-tronco podem ser coletadas da polpa dentária para serem usadas na formação de diferentes estruturas. O grupo estuda o tema há mais de 15 anos.
O artigo foi publicado na revista científica internacional Frontiers for Young Minds, voltada para o público infantil. Para o professor Francisco Wanderley Garcia de Paula e Silva, coordenador da pesquisa, a iniciativa é uma oportunidade de levar conhecimento para o público infantojuvenil.
“Nós temos várias propostas de alfabetização em saúde que são voltadas para crianças e pensamos: por que não ensinar ciência para elas?”, explica.
O trabalho foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para garantir que o conteúdo do artigo fosse acessível para os pequenos, o artigo foi revisado por crianças.
A revisão foi feita por meio de um tutor que faz a intermediação entre os leitores mirins e os pesquisadores, que recebem apontamentos sobre a produção científica.
“Vinham informações assim: ‘esse termo aqui eu não conheço, é estranho’”, revela Paula e Silva.
Os feedbacks foram essenciais para garantir que a informação fizesse sentido para as crianças.
“A gente escuta essas crianças e transforma o texto para que elas consigam compreender o conteúdo”, afirma o pesquisador.
Desta forma, a publicação conta com um glossário com explicações dos nomes utilizados pelos cientistas e várias ilustrações de apoio.
Ilustração de artigo cientifico que explica regeneração dos dentes para crianças
Reprodução/Frontiers for Young Minds
Como acontece o processo de regeneração?
Paula e Silva explica que o dente humano é um órgão que, assim como todos os outros, é formado por diferentes tecidos. Por sua vez, os tecidos têm origens de células distintas.
Existe um tipo de célula, chamado célula-tronco, que são indiferenciadas. Isso significa que elas podem dar origem a todos os tecidos e suas posteriores especializações. Por isso mesmo, elas podem ser muito úteis para os cientistas.
“A célula-tronco pode dar origem ao ameloblasto que forma o esmalte do dente, que é a camada mais externa que a gente vê quando uma pessoa sorri”, exemplifica o professor.
Mas elas também podem se especializar de uma maneira diferente e formar o odontoblasto, que produz a dentina.
Dentro da dentina, fica a polpa do dente, um tecido conjuntivo frouxo onde ficam os nervos e os vasos sanguíneos. Esse tecido também é rico em células tronco.
“Essa é uma estrutura do dente, vários tecidos combinados para formar um órgão funcional que serve pra gente mastigar”, diz Paula e Silva.
Em casos de cáries, por exemplo, o que ocorre é que uma bactéria, em contato com resíduos de açúcar, produz um ácido que retira minerais do dente justamente na parte da polpa, onde a dentina é produzida.
“Isso é natural do processo de cárie”, aponta o professor.
Ilustração de artigo científico produzido para crianças mostra estruturas do dente
Reprodução/Frontiers for Young Minds
Quando um dentista trata de uma cárie, ele coloca um material bioativo para estimular a produção de dentina. Ela é essencial para o processo de reparação dos dentes, mas a regeneração já é algo diferente.
“É um processo um pouco mais amplo, mais complexo. Não é só reparar uma estrutura, é formar todas as estruturas que compõem o dente, cada coisa de maneira ordenada, no lugar certo”, diz Paula e Silva.
Para isso, os dentistas pesquisam a utilização de proteínas para estimular a diferenciação celular das células tronco. Por enquanto, o processo ainda não é utilizado na clínica odontológica, mas os modelos com animais são promissores.
“Por isso que a gente fala que, na clínica, a gente induz o reparo dos tecidos. Mas a regeneração seria formar toda a estrutura de novo e o dente ficar íntegro novamente”, explica.
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto desenvolveu cimento que evita cáries
Divulgação/USP
Por que produzir ciência para crianças?
A infância é um período importante para adquirir hábitos que duram por toda a vida, por isso, incentivar crianças e adolescentes a terem saúde bucal é uma estratégia que pode ser útil para prevenir doenças no futuro.
“Da mesma maneira que a criança vai para a escola e aprende a somar, multiplicar, dividir, ler e escrever, ela também tem que aprender sobre saúde e sobre o cuidado que ela tem que ter consigo mesma”, afirma Paula e Silva.
Além disso, os pesquisadores pretendem incentivar os pequenos a terem contato com a ciência desde cedo.
“Eu acho que a criança já tem, nela mesma, o espírito da investigação. E a gente não pode tirar isso dela, tem que incentivar”, diz o professor.
O pesquisador ainda destaca que a iniciativa do grupo da USP é uma forma de aderir à inclusão de crianças e adolescentes ao movimento STEM, acrônimo que, em inglês, significa a reunião das áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
Pesquisadores da Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto buscam alfabetizar crianças e adolescentes sobre saúde bucal
ALAMY
O artigo vai ser traduzido para o português?
Por enquanto, Paula e Silva diz que não há previsão do artigo ser publicado em português por falta de uma revista científica com uma proposta semelhante no Brasil. Mas isso não quer dizer que as crianças brasileiras não têm acesso ao conteúdo dos pesquisadores.
Em julho, o grupo lançou um canal no Youtube com mais de 60 vídeos para alfabetizar crianças e adolescentes sobre saúde bucal.
“Nós temos objetivo de levar ciência e educação e saúde pras crianças e adolescentes em um ambiente que elas são familiarizadas, que é a internet”, explica.
Paula e Silva garante que todo o conteúdo do artigo está disponível na plataforma, que também aborda outros assuntos como formas de prevenção de doenças, higienização de escovas de dentes, cárie na primeira infância, visitas ao dentista, formação dos dentes, e mais.
Grupo de pesquisa da Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto tem canal com vídeos sobre saúde bucal para crianças
Reprodução/Redes sociais
Os vídeos são formulados e apresentados por graduandos e alunos do Programa de Pós-Graduação em Odontopediatria sob supervisão dos professores.
De uma maneira lúdica, acessível e atraente para os pequenos, eles buscam oferecer um conteúdo baseado em evidências científicas, o que Paula e Silva considera o principal diferencial do projeto.
“É o jeito que eles gostam de assistir. Então, nós lançamos essa plataforma para nos auxiliar a melhorar os índices de alfabetização e saúde da nossa população”, afirma.
O canal também tem o objetivo de auxiliar pais e professores no cuidado com a saúde bucal das crianças.
O grupo incentiva, inclusive, que profissionais da Educação Básica entrem em contato para utilizar o conteúdo em salas de aula.
As estratégias do grupo, que também trabalha em parceria com escolas estaduais de Ribeirão Preto, são uma forma de garantir que o conhecimento não fique restrito à universidade.
“Tudo isso como uma forma de levar a ciência para as pessoas”, afirma Paula e Silva.
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