‘Como é que eu faço para viver?’, pergunta idoso que perdeu a visão após cirurgia no interior de SP

“Não tenho condições de trabalhar […] só recebo minha aposentadoria agora. Como é que eu faço para viver?”. Essas foi a pergunta de Antônio Luiz da Silva, de 73 anos, um dos pacientes que perdeu a visão após participar de um mutirão de cirurgia de catarata no AME (Ambulatório de Especialidades Médicas) de Taquaritinga, no interior de São Paulo, em outubro de 2024.

O idoso trabalhava como operador de máquinas na Prefeitura de Itápolis e disse ao portal acidade on, que precisou ser afastado do cargo após o ocorrido. O caso ficou conhecido apenas está semana, após denúncias de moradores do município.

Eu tinha catarata e precisava fazer a cirurgia para renovar a carta. Fui lá, fiz a cirurgia no dia 21 de outubro, e quando foi de tarde começou a doer. Voltei lá [no AME] e me recomendaram tomar um remédio. No outro dia já estava vermelho para caramba, daí três dias depois já branqueou a córnea

Antônio Luiz da Silva

Assim que percebeu a situação, seu Antônio voltou a passar por atendimento na AME e foi informado que o procedimento havia causado um problema em sua córnea, portanto, deveria iniciar um tratamento.

“Começou a tratar, mas não melhorava e não melhorou até agora. Eu não estou enxergando nada […] minha filha está indo atrás de um advogado. O dinheiro que eu estou recebendo agora é só da minha aposentadoria, muito pouco”, disse o homem que operava máquinas em estradas.

Além de seu Antônio, pelo menos outras 11 pessoas perderam a visão por completo ou parcialmente após participarem do mutirão que atendeu pacientes de Taquaritinga, Monte Alto, Santa Ernestina, Matão e Itápolis.

“A médica deveria ter falado para mim”

O pintor Carlos Augusto Rinaldi, de 66 anos, também foi um dos pacientes que ficou sem enxergar após a realização do procedimento. Ele conta que não enxerga mais com o olho esquerdo e que também não consegue mais trabalhar.

Alguma coisa estava errada lá. Não sei se foi o colírio, se foi soro, se foi gel. Não sei o que foi. Na pós-cirurgia, a médica deveria ter falado para mim, porque ela é uma especialista, ela viu o problema. Mas foram ‘empurrando com a barriga’ sabe?

Carlos Augusto Rinaldi

Por conta da situação, uma reunião foi realizada com os pacientes afetados e a administração do AME, em novembro do ano passado.

Conforme os idosos envolvidos, eles foram encaminhados a serviços especializados em oftalmologia, como a Santa Casa de Araraquara e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP), onde parte deles recebeu a informação de que a situação era irreversível.

“Eu me sinto um ‘zero à esquerda’, não posso fazer nada”, conta o homem que pretende entrar com um processo contra o equipamento. Após a reunião, todos os pacientes afetados pelo mutirão da cirurgia de cataratas foram inseridos na fila de transplante de córnea.

Carlos Augusto Rinaldi, de 66 anos - Foto: reprodução/ EPTV.
Carlos Augusto Rinaldi, de 66 anos – Foto: reprodução/ EPTV.

Comissão de especialistas

Durante a passagem por Ribeirão Preto, no último sábado (8), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) comentou sobre o caso. Ele disse que é importante apurar o que aconteceu e afirmou que está montando uma comissão de especialistas no HC para avaliar o caso.

“Como essas cirurgias foram realizadas no mesmo dia, há um indicativo de que pode ter ocorrido algum problema, alguma contaminação. O importante agora é apurar o que aconteceu e dar assistência total a essas pessoas que tiveram esse problema”, disse o governador.

O que diz a Saúde?

Em comunicado, a secretaria de Saúde de Taquaritinga informou que os pacientes desenvolveram complicações pós-cirúrgicas oftalmológicas. Contudo, durante uma vistoria técnica, membros das vigilâncias sanitárias estadual e municipal detectaram falhas na sala de materiais para esterilização do AME.

A secretária executiva da Saúde do Estado de São Paulo, Priscilla Perdicaris, também foi procurada e classificou o incidente como um “fato isolado gravíssimo”.

Ela ainda afirmou que uma investigação está sendo realizada para apurar as causas e adotar as medidas necessárias, e que toda a equipe médica envolvida no mutirão foi afastada de suas funções.

Todas as cirurgias feitas no AME de Taquaritinga estão suspensas e são aguardados os resultados dos laudos das análises realizadas no local, que devem ficar prontos em 15 dias. (Com a EPTV)


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