Dono de escola é condenado a prisão por 9 mortes em desmoronamento de gruta em Altinópolis, SP


Sentença ainda prevê multa de R$ 450 mil por danos morais aos familiares das vítimas. Defesa informou que vai recorrer da decisão. Bombeiros trabalham no resgate de vítimas na Gruta Duas Bocas, em Altinópolis, SP
Divulgação/Polícia Militar
A Justiça condenou o empresário Sebastião Francisco de Abreu Neto, dono da escola responsável pelo treinamento que terminou com nove mortos na gruta Duas Bocas, em Altinópolis (SP), a quatro anos de prisão por homicídio culposo — quando não há intenção de matar.
Além da pena, Abreu Neto também foi condenado a pagar R$ 50 mil aos familiares de cada uma das vítimas por danos morais, totalizando R$ 450 mil. Ele vai responder em liberdade.
Ao g1, o advogado de defesa do empresário, Wesley Felipe Martins dos Santos Rodrigues, informou que respeita a decisão, mas vai recorrer por não concordar com a sentença.
“Não foi a Real Life quem ministrou o curso, e sim a pessoa física do Celso Galina, o qual era extremamente qualificado para tanto. Ainda assim, o acidente se deu por causas naturais, visto que a gruta era aberta ao público”.
O acidente aconteceu em outubro de 2021, quando bombeiros civis foram soterrados no desabamento da gruta, que fica na zona rural da cidade.
Promotor do caso, Ivan Cintra Borges chegou a afirmar à época que o curso de busca e salvamento na gruta, vendido pela escola de Abreu Neto, não poderia ter acontecido no formato definido.
Segundo ele, a empresa não forneceu sequer capacetes a todos os inscritos, que precisavam fazer rodízio para usar os equipamentos.
Em dezembro de 2021, a Polícia Civil já havia indiciado Abreu Neto. Segundo o delegado Rodrigo Salvino Patto, responsável pelo inquérito, o dono da escola não deveria ter permitido o curso na gruta por causa das más condições climáticas da região no dia do treinamento.
Na época, o delegado afirmou que o acidente ocorreu por ‘fato extraordinário da natureza’, mas ressaltou que o curso deveria ter sido cancelado por causa do mau tempo.
Grupo soterrado e mortes
O curso de busca e salvamento em caverna teve início na tarde de 30 de outubro de 2021. De acordo com o Corpo de Bombeiros, 28 bombeiros civis e instrutores participavam do treinamento. O plano inicial, segundo sobreviventes, era passar a noite no local como parte das atividades.
No início da noite, o treinamento foi suspenso por causa da chuva forte, mas o mau tempo impediu a saída do grupo, que acampou na entrada da gruta.
O desmoronamento do teto de arenito aconteceu na madrugada de 31 de outubro, deixando parte do grupo retido.
Corpo de Bombeiros trabalha no resgate de vítimas soterradas em gruta de Altinópolis, SP
Das dez vítimas completamente soterradas, nove morreram: Celso Galina Júnior, instrutor responsável pelo curso, Jenifer Caroline da Silva, José Cândido Messias da Silva, Elaine Cristina de Carvalho, Rodrigo Triffoni Calegari, Jonatas Ítalo Lopes, Débora Silva Ferreira, Ana Carla Costa Rodrigues de Barros e Natan de Souza Martins.
Em cima, da esquerda para a direita, Débora Silva Ferreira, Natan de Souza Martins, Jenifer Caroline da Silva, Celso Galina Junior; embaixo, da esquerda para a direita, Ana Carla Costa Rodrigues de Barros, Rodrigo Triffoni Calegari, Elaine Cristina de Carvalho, Jonatas Ítalo Lopes, José Candido Messias da Silva. Grupo morreu em desabamento de gruta em Altinópolis, SP
Arquivo Pessoal
O laudo da perícia técnica descartou ação humana no desmoronamento – escavação ou uso de máquinas e ferramentas –, mas apontou falhas na formação rochosa composta por arenito, em razão de desgaste do tempo e da ação do clima.
Na época, a perícia ainda apontou manchas de umidade na gruta. Em contato com água da chuva, é comum que, ao longo dos anos, haja um processo de encharcamento e perda do formato original da rocha.
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