Entenda o que é apendicite, doença que fez prefeito de Ribeirão Preto, SP, passar por cirurgia de emergência


Inflamação do apêndice pode ter complicações graves, como infecção generalizada e morte. Tratamento, na maioria das vezes, é cirúrgico. O prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB)
Rodolfo Tiengo/G1
Recentemente, o prefeito de Ribeirão Preto (SP), Duarte Nogueira (PSDB) precisou passar por uma cirurgia de emergência para retirada do apêndice.
De acordo com o boletim médico, Nogueira procurou atendimento após sentir dores no lado direito do abdômen, sintoma comum de apendicite, que é uma inflamação que pode ter complicações graves que, caso não sejam tratadas, podem levar até a óbito.
Na terça-feira (25), após cumprir a agenda pela manhã, o prefeito foi até um hospital particular onde foi constatado o quadro e passou pela cirurgia para retirada do apêndice. Ele está bem e em recuperação.
O g1 conversou com dois especialistas para explicar nesta reportagem o que é apendicite, quais seus principais sintomas e quando procurar ajuda. Confira nos cinco tópicos abaixo.
O que é apendicite?
Quais são os primeiros sinais da apendicite?
Todos os casos de apendicite precisam de cirurgia?
Como é feito o diagnóstico?
Quando uma dor abdominal pode indicar algo mais grave?
A inflamação do apêndice, que já não tem uma função clara na digestão, pode ser muito dolorosa
Getty Images
O que é apendicite?
Professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, José Sebastião dos Santos explica que a apendicite é uma inflamação, que pode ser seguida de infecção, de uma pequena estrutura que fica entre o intestino fino e o intestino grosso.
Essa estrutura é uma espécie de tripa, bem pequena, aproximadamente metade do tamanho de uma caneta. Mas se for obstruída por algo como, por exemplo, um pequeno pedaço de fezes, pode fazer um grande estrago.
“O conteúdo dessa alça, que é fina, fica retido. Junta com o mudo, que é produzido pelo revestimento interno dessa tripa e aumenta a pressão. Esse aumento da pressão vai comprimir a parede dessa tripa e vai causar uma falta de circulação de sangue”.
Uma das possíveis consequências desse aumento de pressão é a perfuração do apêndice, liberando o conteúdo contaminado para a cavidade abdominal.
Isso, por sua vez, pode causar uma infecção generalizada.
Quais são os primeiros sinais da apendicite?
Segundo os dois especialistas, a apendicite pode começar a se manifestar através de um desconforto na boca do estômago, que pode causar náusea e vômitos.
Em seguida, em casos típicos, essa dor se desloca para a parte direita do abdômen, na região do baixo ventre. Esse deslocamento do incômodo é importante para diagnosticar casos de apendicite.
“Ou ela começa na boca do estômago e depois vai pra baixo, do lado direito, ou ela já começa diretamente no lado de baixo direito. Então, no final ela sempre vai parar ali”, diz Gustavo Ribeiro de Oliveira, médico gastroenterologista e presidente da Unimed Ribeirão Preto.
No geral, casos de apendicite atingem, principalmente, adultos jovens, com idades entre 20 e 55 anos.
De acordo com os médicos, não há uma predisposição maior entre homens e mulheres para desenvolver a inflamação.
O apêndice é uma estrutura que fica entre os intestinos fino e grosso
Getty Images via BBC
Todos os casos de apendicite precisam de cirurgia?
O professor da USP afirma que nem todo o caso de apendicite é cirúrgico. “Às vezes, quando a gente pega na fase inicial, você pode, com medicamentos e antibióticos, fazer com que esse processo inflamatório resolva espontâneamente”, diz dos Santos.
Segundo ele, existe uma chance de que o próprio organismo bloqueie a infecção generalizada e forme uma coleção de pus que pode ser drenada sem cirurgia. Essa é uma possível evolução.
“Tem casos que precisa operar, tirar o apêndice, e tem casos que você dá o antibiótico e o apêndice se destrói naturalmente. O organismo bloqueia e aí você pode só drenar o abcesso”, afirma.
No entanto, o gastroenterologista Ribeiro diz que esses casos, onde as próprias alças do intestino formam um bloqueio do apêndice perfurado, são muito raros.
“É a exceção da exceção. A ideia é que a gente nunca deixe chegar à perfuração”.
Por isso, ele afirma que todos os casos de apendicite aguda pedem um procedimento cirúrgico.
“A apendicite aguda, que é a mais comum, começa a inflamar e, de pouco em pouco, na medida que vai inflamando, vai entrando em fases de inflamação maior podendo apodrecer este apêndice. O melhor, realmente é, sempre remover essa estrutura, até porque não tem função no corpo”.
Como é feito o diagnóstico?
A conversa com o paciente é o primeiro passo, para analisar o que os médicos chamam de “história” do quadro, seguido pelo exame físico, que também pode ajudar bastante no diagnóstico, já que ocorre o que os médicos chamam de descompressão brusca positiva.
“Quando você aperta a barriga da pessoa que está com apendicite, ela tem muita dor. E quando você tira a mão deste aperto, a dor aumenta mais ainda. É algo interessante”, diz Ribeiro.
Dos Santos ainda destaca a importância da observação de cada caso.
“Se está na fase muito inicial, o exame físico não ajuda. Às vezes você tem que observar por um período de 24h a 48h até ver se aparecem sintomas físicos”, diz.
Caso ainda haja dúvidas após a conversa e o exame físico, ainda é possível pedir exames para confirmar a suspeita.
No caso do prefeito de Ribeirão Preto, o médico responsável pediu uma tomografia.
Apesar de não haver maior incidência da apendicite em homens ou mulheres, Ribeiro explica que diagnosticar homens costuma ser mais fácil para o profissional de saúde.
“Como o homem não tem parte ginecológica, uma dor mais forte localizada abaixo à direita, provavelmente é apendicite. Na mulher, tem mais diagnósticos para confundir”.
Dor abdominal pode ser sinal de apendicite
Divulgação/Pixabay
Quando uma dor abdominal pode indicar algo mais grave?
É verdade que nem toda dor abdominal indica um quadro de apendicite ou algo mais grave. Muitas vezes, conforme dos Santos, elas surgem e desaparecem repentinamente, sem que seja possível concluir um diagnóstico.
“Isso acontece em cerca de 30% dos casos. É alto o número de pessoas que procuram o serviço de urgência com dor abdominal e que você observa e a dor desaparece. Por isso que a gente às vezes tem que avaliar, reavaliar, ver se os sintomas estão persistindo”.
Dos Santos ainda destaca que quando a dor é acompanhada de outros sintomas, é importante buscar a atenção médica.
“Quando a dor é contínua e vai alterando o jeito do intestino funcionar, a pessoa começa a ter náusea, vômito, ou paralisa o intestino e ela não consegue eliminar gases, evacuar, o abdômen distende e ela toca e fica muito doloroso, ela não consegue fazer a palpação profunda da barriga, isso é sinal de que as coisas estão ficando mais graves”.
Nestes casos, pode ocorrer o que os profissionais chamam de repercussão sistêmica: a pessoa começa a ficar desidratada, com frequência cardíaca e respiratória altas, febre, calafrios e diminuição de urina.
Para o gastroenterologista, o paciente precisa sempre estar atento à intensidade do incômodo.
“Dor fraca pode tentar resolver em casa. Agora, dor média pra forte, significa que é mais importante. Não estou dizendo que seja grave, mas sim, mais importante. Então, em vez de ficar sofrendo em casa com uma dor moderada e grave, vai pro hospital”, orienta Ribeiro.
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