Entregador repudia ofensas racistas de jovens em Taquaritinga e pede aplicação da lei: ‘Não justifica’


Breno Danilo Kenmoti, de 29 anos, foi alvo de xingamentos em post em que clientes reclamavam de confusão com troco. Polícia Civil investiga o caso. Jovens são alvos de protestos após publicações racistas contra entregador em Taquaritinga
Há três anos, Breno Danilo Kenmoti, de 29 anos, trabalha com entrega de comida à noite para complementar a renda como mototaxista em uma rotina diária que começa às 6h. Entre tantos clientes que já atendeu, o morador de Taquaritinga (SP) conta que nunca passou por algo parecido como o que aconteceu no último fim de semana, quando foi alvo de posts com ofensas racistas.
Ele foi hostilizado nas redes sociais por jovens momentos depois de levar batatas fritas a elas na noite de sábado (22), tudo porque havia ocorrido um desentendimento com relação ao valor do troco correspondente à comida.
“Um colega meu falou do vídeo que estava rolando no grupo nosso, aí eu vi o vídeo. O vídeo já fala por si. Eu acho que não justifica ela ter feito isso. Se tivesse errado era só entrar em contato no La Brasa [a hamburgueria] e falar para voltar o dinheiro que o cara mesmo estornava o dinheiro pra ela. E ela fez tudo isso daí”, diz.
O caso, que motivou protestos de motociclistas no fim de semana, é investigado pela Polícia Civil e foi registrado como Preconceito de Raça ou de Cor. As famílias das jovens, que, segundo apuração da EPTV, afiliada da TV Globo, seriam menores de idade, ainda não haviam se pronunciado sobre o assunto até esta segunda-feira (24).
Nas redes sociais, a La Brasa Burguer repudiou a atitude das clientes e informou estar prestando total apoio ao entregador que foi ofendido.
Jovens gravam vídeo com ofensas racistas a entregador em Taquaritinga, SP
A entrega e as ofensas racistas
Breno afirma que, assim que ele fez a entrega no bairro Itamaracá, as jovens disseram que era preciso troco para mais pessoas que dividiam a conta, diferente do informado por telefone.
Como ainda faltava um valor a ser pago, uma delas teve que passar um cartão. Segundo o entregador, uma delas chegou a ser mal educada com ele, mas pagou o que faltava da conta e ele foi embora.
“Falei pra ela que estava errado, faltavam duas partes, aí ela saiu já sem educação já xingando tudo, falando que era pra passar o caralho do cartão, passei e subi de volta.”
Momentos depois, quando já havia deixado o local, o entregador soube por conhecidos de um post feito pelas jovens, em que elas xingam o profissional (veja acima).
Jovens de Taquaritinga, SP, postam ofensas de cunho racista ao reclamar de entregador na internet
Reprodução/EPTV
Na publicação, compartilhada nas redes sociais, clientes utilizam termos racistas para xingá-lo enquanto outras pessoas riem das falas ao fundo.
No vídeo, uma das jovens começa dizendo que fez um pedido para sete pessoas em uma hamburgueria e pede que a outra continue contando. O entregador é chamado de “preto, macaco e fedido”.
A jovem que está filmando reforça os xingamento proferidos pela amiga. “Ele é tudo isso, ele é tudo isso. É um filho da puta”.
O post revoltou moradores de Taquaritinga, que têm se manifestado em diversas publicações pela internet pedindo por justiça e respeito ao funcionário.
Breno Danilo Kenmoti, entregador de comida em Taquaritinga, SP
Reprodução/EPTV
‘Não dá pra aceitar’
Depois das ofensas, Breno afirma que se sentiu ofendido, não só por ele, mas por outros entregadores.
“[A gente] fica chateado né, porque é uma coisa que não dá pra aceitar, é uma coisa que nenhum ser humano pode passar, esses xingamentos que ela fez”, diz.
O entregador registrou boletim de ocorrência, procurou um advogado e espera que as jovens sejam responsabilizadas dentro da lei.
“Eu me ponho no lugar de qualquer pessoa pra escutar um xingamento desse daí. Acho que no mundo que a gente vive não pode ter mais isso daí. É uma coisa que afeta todo mundo, todo mundo que viu o vídeo vê que é uma coisa pesada, você fica mal, não tem como.”
Como menores respondem em casos como esse?
Presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB de Ribeirão Preto, Marina Camargo explica que em casos como esse adolescentes respondem por ato infracional dentro dos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
As sanções, segundo ela, podem variar entre uma advertência ou a prestação de serviços comunitários até mesmo a uma internação em unidade socioeducativa, a depender da apuração das autoridades competentes.
“Quando um adolescente comete um crime, na verdade ele não comete um crime, ele comete um ato infracional. Isso não significa que ele não vai ser responsabilizado, pelo contrário. O adolescente não vai ser responsabilizado pelo Código Penal, e sim pelo ECA, que tem ali as medidas socioeducativas que ele pode responder.”
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