Está com dificuldade para estudar? Saiba por que ficamos mais esquecidos e como reverter isso


Período de isolamento provocado pela pandemia deixou sequelas como falta de memória e perda de foco, diz neurocientista. A boa notícia é que elas é possível melhorar. Estudantes resolvem provas do vestibular 2023 da Unicamp
Júlio César Costa/g1
🏃 Toda maratona exige bastante de um participante, tanto fisica quanto mentalmente. No dicionário, consta que o substantivo feminino se refere a “qualquer competição de duração prolongada que exija grande resistência”.
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Uma prova de vestibular, por exemplo, cabe dentro dessa definição. E os estudantes não costumam fazer apenas um exame!
Se a maratona de provas não for o suficiente para provocar ansiedade, some isso ao fato de que boa parte destes candidatos passou dois anos longe das salas de aula por conta da pandemia de Covid-19. 🦠
Nesta reportagem, você vai ver:
Calendário dos vestibulares paulistas
Por que estamos mais esquecidos?
Como voltar ao ‘normal’?
Calendário e relatos
🗓️ Se considerarmos só as universidades públicas do estado de São Paulo e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), são pelo menos quatro provas seguidas de 29 de outubro (Unicamp) a 19 de novembro (USP) sem contar as segundas fases.
Unicamp: 29 de outubro
Enem: 5 e 12 de novembro
Unesp: 15 de novembro
USP: 19 de novembro
Para alunos de escola pública, vítimas da desigualdade de ensino no país, o peso é ainda maior. “Está tenso. No ensino à distância a gente não teve uma base sólida e o novo ensino médio não ajuda muito, tirou bastante matéria e a gente está meio perdido ainda, então está realmente bem complicado”, diz um estudante de 17 anos que concorre à uma vaga da Unicamp.
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Micael Victor, de 18 anos, conta que teve que “retroceder” nos estudos antes de seguir em frente. “Eu tive que aprender a aprender. E considerando que estamos tendo um período curto, eu já estou ciente que o curso que eu quero, que é medicina, eu não vou passar este ano”, diz.
Passar no vestibular é um processo sofrido. Não passar, mais ainda. 💔
“Tem essa pressão de você ter que passar de primeira porque você só estuda, e estudar não é [considerado] muita coisa. Você não está ajudando em casa. Se você não passar, o que você está fazendo? O que foi esse ano inteiro gasto que você não ajudou nada em casa, por exemplo?”, diz o estudante Alexander Sabino, de 18 anos.
É difícil — isso se não for impossível — encontrar alguém que não tenha sido impactado pelo isolamento social. Mas, para esses e outros tantos jovens, as consequências atingiram em cheio o processo de aprendizagem, conforme explica o biólogo e neurocientista Alexandre Rezende.
“Agora, com os os alunos voltando presencialmente com níveis de atenção mais baixos e níveis de estresse muito altos, eu vejo nitidamente uma falta de atenção e prejuízos no processo de aprendizagem”, completa o biólogo.
A boa notícia é que isso é reversível. 🔙
Pandemia prejudicou memórias e foco dos estudantes, diz neurocientista
GETTY IMAGES via BBC
Por que estamos mais esquecidos? 🤔
Antes de entender como é possível reverter esse quadro, é preciso compreender o que aconteceu. Os fatos são de conhecimento público — um vírus respiratório se espalhou pelo mundo, resumindo bem a história 😷 — mas, quais as consequências disso do ponto de vista da neurociência para jovens em processo de formação?
Durante esse período, o que Rezende chama de “fisiologia de estresse” foi estimulada ao extremo. 😵‍💫
“O nosso sistema nervoso trabalha justamente para promover a sobrevivência. Então, nosso corpo trabalhou na fisiologia padrão dele, só que de forma muito intensa e gerou, logicamente, todas as sequelas que a gente vê agora: aumento de ansiedade e depressão dos alunos e níveis atencionais bastante prejudicados”, explica.
🤯 O estresse estimula a produção de cortisol, um hormônio que atua em processos como o controle de açúcar no sangue e combate de inflamações. Mas, em excesso, gera sequelas. Parte delas, intimamente ligadas ao processo de aprendizagem que é tão importante para os vestibulandos.
“Já é conhecido, há muito tempo, que o cortisol afeta regiões cerebrais relacionadas à memória”, afirma Rezende.
Basicamente, todo esse processo afeta a região do hipocampo, responsável pela formação de novas memórias. Além disso, quem está sob uma carga de estresse muito grande costuma ter dificuldade para dormir💤, e é justamente durante o sono que novas informações são consolidadas no cérebro. 🧠
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Excesso de estresse provoca aumento de cortisol e afeta memórias
shutterstock
Perdeu o foco? 🔍O excesso de telas também é um dos fatores que prejudicaram e prejudicam muito, até hoje, o processo de aprendizagem. O que acontece, neste caso, é que o uso de tela em excesso aumenta os estímulos constantes de microprazeres. 🤳📱
Isso é ruim porque desregula as quantidades de dopamina, neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para as várias partes do corpo. Se o nome não lhe é estranho, é muito provável que você já o tenha visto como o “hormônio da felicidade”. 😀
Esses microprazeres podem ser, por exemplo, vídeos curtos nas redes sociais. A cada conteúdo, a cada curtida, fica um gostinho de quero mais — e mais, e mais ainda, e só mais um pouquinho… Não tem fim. ♻️
“Isso vai desregulando as quantidades de dopamina porque você vai dando estímulos constantes”, explica Rezende. “Então, nosso cérebro não dá conta de produzir as quantidades ideais para nos manter motivados e focados”.
Estudantes se preparam para maratona de provas de vestibular
Divulgação/Cursinho Solidário
↩️ Como voltar ao “normal”?
É hora da boa notícia: assim como o cérebro se adaptou às condições da pandemia, ele pode se adaptar às condições atuais.
“O nosso cérebro tem uma neuroplasticidade fantástica. Então, é uma questão de tempo, de tentar manter a calma, na medida do possível, e manter o foco nos estudos”, diz Rezende.
É claro que isso não é uma tarefa fácil, mas é necessária, principalmente na hora da maratona de vestibulares. Na hora das provas, as dicas de sempre valem ouro: uma boa noite de sono e uma boa alimentação — que inclui uma certa dose de açúcar, para manter o cérebro funcionando durante as horas resolvendo questões — são essenciais. Não tem mágica; mas tem ciência. 🥼
De volta ao normal, tem outra estratégia que pode ajudar os vestibulandos. Lembra da dopamina? Ela também é responsável pela motivação. 🛣️ E para manter a motivação em alta, o neurocientista recomenda colocar o benefício antes da dificuldade. Neste sentido, a prova é só um caminho para chegar até a meta de entrar no ensino superior. 🎓
“Quem se motiva fazendo prova? A prova é um momento de estresse, desconfortável”, diz Rezende. “Foque onde você quer estar. Nós temos uma capacidade incrível de nos projetar em locais que a gente nem esteve. Escolha a universidade que você quer, entre no site, veja os espaços, a estrutura, e se imagine lá dentro, já fazendo a faculdade e fazendo aquilo que sonha em fazer”, aconselha.
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