Financiamento rural em dólar: como funciona e para qual perfil de produtor é viável


BNDES acaba de lançar programa voltado a exportadores, com expectativa de disponibilizar R$ 2 bilhões por ano. Interessados devem ter conhecimento em câmbio para optar por contratos em moeda estrangeira, avaliam especialistas na Agrishow 2023. Mesa de negociação do Sicredi durante a Agrishow 2023
Leandro Carvalho/Sicredi
Frente à alta taxa de juros no país, o financiamento rural em dólar aparece como uma modalidade de crédito alternativa para empresas e produtores rurais.
Com previsão de entrar em vigor em maio, um novo programa de aportes anunciado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode disponibilizar até R$ 2 bilhões por ano para aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas, como forma de levar custos mais competitivos ao setor agropecuário.
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A modalidade pode ser muito viável, a depender do perfil do cliente que trabalhe com exportações, mas é preciso cautela e conhecimento no mercado cambial, explicam representantes de bancos ouvidos pelo g1 durante a Agrishow 2023, maior feira de agronegócio da América Latina que acontece em Ribeirão Preto (SP).
A seguir, entenda um pouco mais sobre essa modalidade.
Negociações no estande do Santander, na Agrishow 2023
Alex Roda/Divulgação
Crédito em dólar
Existem no mercado diversas opções de obtenção de crédito em moeda estrangeira, desde contratos que assemelham aos financiamentos tradicionais como a Cédula de Crédito Rural (CPR), ao adiantamento de contratos de câmbio (ACC), que, grosso modo, é uma forma de o exportador receber pelo que vendeu antes do efetivo pagamento por parte do importador.
Dólar opera em baixa
Freepik
Como funciona?
A modalidade oferecida pelo BNDES, que é uma das operações com moeda estrangeira disponíveis no mercado, é um contrato de financiamento, assim como o convencional, mas com a diferença básica de que os recursos tomados são em dólar e, por isso, sua quitação está sujeita às oscilações cambiais.
Nos últimos seis meses, segundo cotações do Banco Central, a moeda norte-americana, para compra, variou entre R$ 4,99 e R$ 5,44.
“É como se fosse um capital de giro, praticamente igual à nossa CPR [Cédula de Produtor Rural], que é a nossa CPR financeira, só que o custo da operação é o dólar. Então tem uma volatilidade que a gente precisa considerar”, afirma Ricardo França, responsável por agronegócios no Santander Brasil.
Em compensação, os bancos vão trabalhar com juros abaixo dos praticados pela economia brasileira – hoje a Selic está projetada em 13,75%.
A alíquota de referência, a Taxa Fixa BNDES em Dólar (TFBD), a ser praticada a partir de 15 de maio, é de 7,59% e pode variar de acordo com os prazos dos contratos, previstos entre 25 e 120 meses.
Edifício-sede do BNDES, que acaba de lançar nova linha de crédito em dólar
Marcos Serra Lima/g1
Para quem essa forma de financiamento é recomendada?
Os bancos costumam recomendar esse tipo de operação para grandes produtores rurais que, além de terem custos vinculados à moeda estrangeira, também recebem em dólar, como com a comercialização de soja nas tradings, grupos formados pelo mercado financeiro que fazem a intermediação dos negócios entre produtores nacionais e compradores internacionais.
Pelo perfil das empresas, é uma forma de obtenção de crédito muito comum em regiões como o Centro-Oeste do país.
“Boa parte dos produtores ficou muito grande, então eles têm relação direta com tradings que compram soja para exportar, Lá é muito mais comum a trading fazer contrato em dólar porque ele administra bem uma moeda estrangeira, coisa que um pequeno produtor não tem”, afirma Roberto França, diretor de agronegócios do Bradesco.
Produção de soja em MS
Reprodução/TV Morena
Isso porque, segundo ele, pode haver uma compensação no fato de se gastar – com máquinas importadas, por exemplo – e ao mesmo de se ganhar em dólar.
“Se ele tem variação cambial na dívida e variação cambial quando entrega a soja, ele anula o custo da variação cambial para o empréstimo e anula porque ele está recebendo. Então o custo real pra ele fica além da variação cambial”, explica.
Diretor de crédito do Sicredi, Gustavo Freitas também explica que optar por essa modalidade requer conhecimento de mercado.
“Para quem esse tipo de linha cabe melhor? Para produtores que em geral produzem na ponta algum tipo de commodity e cuja compra e venda tem cotações em dólar, e ele é familiarizado obviamente com esse tipo de cotação”, diz.
O que precisa ser observado?
Além da questão cambial em si, há outros fatores que precisam ser observados na hora de se contratar crédito rural em moeda estrangeira, como por exemplo a dinâmica da economia nos EUA e a relação entre custos e receitas da empresa.
“Existem alguns cenários que precisam ser avaliados. Para clientes que compram insumos e vendem sua produção em dólar, o financiamento em dólar pode ser mais vantajoso pelo fato de que os juros nos Estados Unidos são menores que os do Brasil. Clientes que têm todos seus custos em reais e não comercializam em dólar precisam avaliar se o financiamento em dólar não vai gerar um risco de perda futura com efeito cambial”, afirma Ricardo França, do Santander.
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