Fósseis encontrados em Monte Alto, SP, podem demorar até 5 anos para serem identificados


Processo para descobrir de qual espécie se tratam os ossos envolve análise em laboratório, estudo e publicação de artigo científico. Material achado é composto por costelas e vértebras. Papeis indicam partes de costela e vértebras de dinossauro encontradas nesta semana na zona rural de Monte Alto, SP
Ronaldo Gomes/EPTV
A descoberta de novos fósseis na área rural de Monte Alto (SP) nesta semana animou a equipe de paleontólogos do Museu de Paleontologia da cidade muito por conta da quantidade de ossos encontrados – em sua grande maioria, costelas e vértebras -, mas apenas em cinco anos será possível saber a qual espécie eles pertencem.
Isso porque, de acordo com a paleontóloga Sandra Tavares, diretora do museu, o processo pós-descoberta não é rápido e ainda exige atenção, dedicação e muito estudo.
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“O tempo de análise de um material, da retirada do campo até a publicação do artigo científico, é de três a cinco anos, pela experiência que a gente já tem de outros fósseis que coletamos, preparamos e fizemos o artigo científico para publicação. A preparação é muito delicada e precisa de calma e tempo”.
Fósseis encontrados em Monte Alto, SP, podem levar até 5 anos para serem analisados
Ronaldo Gomes/EPTV
Sandra explica que os novos fósseis encontrados não serão trabalhados imediatamente. A princípio, serão levados ao museu e, posteriormente, analisados em laboratório.
“A gente coloca aí um ano para preparação desse material a partir do momento que a gente começa a preparar. Isso vai acontecer com esse fóssil já de imediato? Provavelmente, não. Então a gente vai demorar um pouquinho”.
Segundo a paleontóloga, o processo, no entanto, pode ser acelerado se partes do crânio do animal forem encontradas durante a análise.
“Se a gente começar a olhar ele no laboratório e ver se tem, por exemplo, um pedaço de crânio, aí a gente para tudo e vai trabalhar esse crânio”.
Sandra Tavares é paleontóloga e diretora do Museu de Paleontologia, em Monte Alto, SP
Ronaldo Gomes/EPTV
Ossada pode ser de espécie inédita
Ainda não é possível afirmar a espécie a que pertencem os fósseis recém-descobertos e Sandra revela que, inclusive, pode se tratar de algo inédito. Mas isso só deve ser revelado após análises em laboratório.
“Só vamos saber dizer se é de uma espécie nova de dinossauro depois da preparação mesmo, então vai demorar alguns anos, muito por causa da deficiência de profissionais especializados nessa preparação de material, não posso colocar qualquer pessoa preparando”.
Paleontóloga Sandra Tavares, de Monte Alto, SP, prepara fóssil coletado em novembro de 2021
Arquivo Pessoal
No caminho entre o campo e o artigo científico publicado, ainda há muita coisa a ser feita.
As rochas onde estão os fósseis são delimitadas em blocos
Os blocos são transportados para o laboratório
No laboratório, o material é estabilizado: ele fica reservado por algumas semanas para secar, porque a rocha está úmida e, consequentemente, o fóssil também
Uma vez seco, o fóssil é retirado da rocha e começa a ser analisado
Os fósseis foram encontrados pelo auxiliar de paleontologia Cledinei Aparecido Francisco durante um passeio com a família pela área rural de Monte Alto no domingo (18).
“Fui mexer na rocha com o ponteiro, bati em cima da rocha e, quando fui ver, era a vértebra de um dinossauro. Ao limpar com o pincel de lado, percebi que tinha mais fósseis. Nossa, foi um desespero”.
Após a descoberta, a equipe do museu passou a semana escavando o local para coletar o material.
Auxiliar de paleontologia, Cledinei Aparecido Francisco encontrou os fósseis em Monte Alto, SP, durante passeio com a família
Ronaldo Gomes/EPTV
Processo de fossilização
O fóssil, explica Sandra, é um osso que ficou preservado dentro de uma rocha. “Ele adquiriu as características minerais existentes naquele local, então se transformou em um osso petrificado”
Ainda segundo a paleontóloga, é por estar na rocha que ele consegue se manter preservado por tanto tempo.
“Quando o dinossauro morreu, os ossos dele, que são estruturas duras, partes duras do corpo dele, conseguiram se manter preservados e foram cobertos por lama. Com o passar dos milhões de anos, essa lama se transformou em rocha e, ele, que estava lá dentro, também. Por isso que a gente encontra eles dentro da rocha hoje”.
Este processo recebe o nome de fossilização, que é quando o animal acaba recoberto, evitando a decomposição.
“Imagine só o osso de uma vaca em um pasto hoje em dia. Duraria só alguns meses. Com a ação da natureza, iria se degradar. Então, dentro da rocha, o osso fica preservado e hoje a gente consegue descobrir muitas coisas sobre eles”.
Tarefa nada simples
Por trabalhar com fósseis há mais de 30 anos, Cledinei Aparecido Francisco teve o olho clínico necessário para identificar o material rapidamente, mas encontrar um fóssil não é tarefa simples.
Isso porque, de acordo com o paleontólogo Rodolfo Santos, doutorando pela Universidade de São Paulo (USP), boa parte é relativamente pequena e difícil de ser vista a olho nu.
“Também existem casos em que as cores e texturas dos fósseis são muito similares à da rocha, o que dificulta a identificação a partir de pessoas com um olhar não treinado. Mesmo no caso de organismos maiores [como dinossauros e crocodilos, frequentemente encontrados no interior do estado de São Paulo], o mais comum é que apenas uma porção do esqueleto esteja à mostra, sendo que a maior parte permanece oculta dentro da rocha”.
Santos explica que, geralmente, paleontólogos buscam realizar coletas em áreas já mapeadas, onde trabalhos anteriores já indicaram a ocorrência de fósseis.
“Mas como o Brasil é um país muito grande, diversas áreas ainda não foram completamente exploradas, e, portanto, certamente existem vários afloramentos cheios de fósseis ainda não descobertos”, afirma.
Qualquer pessoa pode se deparar com um fóssil, segundo o paleontólogo, mas é importante ressaltar que não se pode apropriar do material.
“De acordo com a legislação vigente, todos os fósseis são considerados bens da União, e, portanto, pertencem ao Estado brasileiro. Vender ou se apropriar de fósseis é proibido”.
Ainda segundo Santos, ao encontrar um fóssil, seja por acaso ou até mesmo durante alguma obra, a pessoa deve entrar em contato com uma instituição especializada, que pode ser uma universidade ou mesmo um museu.
“O certo a se fazer é evitar manipular o material, fósseis podem ser frágeis. E entrar em contato com alguma instituição que possui pessoal capacitado para coletar o material de forma profissional”.
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