Mãe nega que filho tenha tentado assaltar PM e diz que briga de trânsito motivou disparos em avenida em Ribeirão Preto

Um dos tiros atingiu a gerente de loja Julia Ferraz, de 27 anos, que morreu enquanto tentava atravessar via. Suspeito alega que agiu em legítima defesa porque teria sido abordado por dois homens em uma moto. Marido de vítima de bala perdida fala pela 1ª vez e levanta nova suspeita sobre PM
A gestora de condomínios Lilian Scandiuzzi, mãe de Gustavo Alexandre Scandiuzzi Filho, de 26 anos, nega que o filho tenha tentado assaltar o policial militar Maicon de Oliveira Santos, de 35 anos, na madrugada de segunda-feira (14), na Avenida Independência, em Ribeirão Preto (SP).
Lilian Scandiuzzi, gestora de condomínios e mãe de Gustavo, um dos rapazes que estava na moto quando policial atirou em avenida em Ribeirão Preto, SP
Jefferson Neves/EPTV
Santos é suspeito de causar a morte da gerente de loja Julia Ferraz, de 27 anos, vítima de uma bala perdida e chegou a dizer à polícia que teria agido em legítima defesa após ser abordado por Gustavo e Arthur de Lucca dos Santos Freitas Lopes, de 18 anos, que estavam em uma moto.
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Lilian diz que, segundo o filho, o que aconteceu foi uma briga de trânsito. Gustavo está internado na Santa Casa de Ribeirão Preto, aguardando por uma cirurgia. Ele foi atingido na perna por um dos disparos.
“Conversei com o Gustavo ontem [segunda-feira] muito rapidamente aqui no hospital. Ele estava muito atordoado, mas o que ele sustenta é que foi uma briga de trânsito. Nós temos condições financeiras suficientes, meu filho não precisa assaltar, roubar ninguém. É totalmente descabida essa situação”.
Santos foi preso em flagrante na segunda-feira, mas acabou obtendo a liberdade provisória da Justiça nesta terça-feira (15) após passar por audiência de custódia.
O benefício foi concedido mediante adoção das seguintes medidas cautelares:
apresentar-se em juízo mensalmente para prestar contas das atividades e comprovar endereço atual;
manter-se em casa nos dias de folga, podendo sair de casa apenas para trabalhar.
Imagens mostram momento em que motociclista atira contra dupla em moto e acaba atingindo mulher de 27 anos em Ribeirão Preto
Reprodução/Circuito de segurança
Briga começou por conta de infração de trânsito
Ainda segundo Lilian, o filho dela revelou que a briga com o PM teria começado por conta de uma infração de trânsito cometida por Gustavo.
“Foi uma conversão errada que ele fez, não sei se foi semáforo fechado, e o policial não teria gostado. Ele não sabia, obviamente, que era um policial à paisana e eles começaram aquela discussão de trânsito que a gente não recomenda nunca pra ninguém”.
Lilian conta que ouviu de Gustavo que ele, Arthur e o PM, que também estava de moto, começaram a discutir na Avenida Itatiaia e seguiram trocando ofensas verbais até a Avenida Independência.
As duas vias têm, em média, um quilômetro de distância.
“Eles vieram discutindo desde a Itatiaia até a Independência e, quando chegou em frente à boate, as agressões verbais ficaram um pouco mais fortes. Foi onde ele [o PM] sacou da arma e saiu atirando para todos os lados. Se o meu filho não tivesse acelerado a moto, hoje ele nem estaria aqui no hospital. Meu filho não é bandido, ele trabalha, tem emprego fixo, não precisaria disso”.
Lilian nega, inclusive, o fato de que o filho estaria armado, hipótese levantada pelo policial durante depoimento.
Advogado de defesa de Santos, Gustavo Henrique de Lima e Santos afirma que, apesar de não ter a certeza se os jovens estariam armados, o PM acreditava que “houve um movimento”.
“Logo que a moto acelera, houve um movimento pelo garupa que indicava algo sendo retirado do bolso. Nesse momento, ele entendendo que poderia ser uma arma de fogo e os disparos poderiam ser efetuados na direção dele pra trás, ele efetuou os disparos para que eles evadissem, assim, evitando uma injusta agressão”.
Família de jovem morta pede justiça
Marido de Julia, o motorista de aplicativo Yuri Felipe Silvério afirma que as filhas do casal, de 7 e 6 anos, estão abaladas e a família pede por justiça.
“Estão acabadas, arrasadas, o psicológico abalado. A mãe que sempre cuidou, estavam sempre junto com a mãe e, de um dia para o outro, não estão com a mãe. Vai ser muito difícil, meu chão acabou. Ela era meu pilar. A gente construiu nossa família, se dava muito bem, a gente se amava e vai se amar para o resto da vida. Eu estou acabado, sem chão por essa brutalidade”.
Yuri Felipe Silvério pede por justiça pela morte da mulher, Julia Ferraz, atingida por um tiro enquanto atravessava avenida em Ribeirão Preto, SP
Jefferson Neves/EPTV
A liberdade concedida ao PM revoltou Silvério, que afirma que vai cobrar por uma punição severa.
“Ele deixou duas filhas sem mãe, ele fez uma covardia, uma brutalidade, destruiu uma família. Se ele errou, tem que arcar com o erro. Ele disparou mais de oito vezes, tem que ser punido. Eu vou querer justiça, vou atrás, porque quero ele preso. Ele vai ter que pagar, não vai voltar a vida dela, mas ele vai ter que pagar”.
O corpo de Julia foi enterrado nesta terça-feira em Ribeirão Preto.
Julia Ferraz, de 27 anos, morreu baleada em avenida de Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
O caso
A morte de Julia ocorreu por volta das 3h de segunda-feira, quando ela havia acabado de deixar uma casa noturna localizada na Avenida Independência. A vítima estava com uma outra pessoa e caminhava pelo canteiro central da via quando foi atingida.
A EPTV, afiliada da TV Globo, teve acesso a câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao local.
Nas imagens, é possível ver que, momentos antes de Julia ser baleada, Santos parece discutir com Gustavo e Arthur, que estavam em outra moto. (veja vídeo abaixo)
VÍDEO: câmera registra momento em que jovem é baleada e morta em avenida de Ribeirão Preto
Em determinando momento, todos param e o PM saca uma arma e atira em direção à dupla, que foge.
Pelas imagens, é possível ver que, em meio a esses disparos, Julia, que estava metros adiante da origem dos disparos, cai no meio da avenida ao ser baleada.
Imagens mostram momento em que motociclista atira contra dupla em moto e acaba atingindo mulher de 27 anos em Ribeirão Preto
Reprodução/Circuito de segurança
Além da morte da jovem, o PM responde por duas tentativas de homicídio por conta dos tiros disparados em direção a Gustavo e Arthur.
Segundo a Polícia Civil, dez cápsulas deflagradas foram encontradas no local do crime e apreendidas. A arma do policial foi recolhida.
Para a delegada Vanessa Matos da Costa, responsável pelas investigações, houve excesso na conduta do policial militar responsável pelo tiro.
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