Mensagem de esposa, espera de 20 dias e grupo de composição: como surgiu a música mais tocada da história do Spotify no Brasil?


‘Arranhão’, megahit de Henrique e Juliano, lidera o número de execuções na plataforma de streaming e foi composta pela dupla Kaique e Felipe, que se apresentou na Festa do Peão de Barretos e conversou com o g1. Kaique e Felipe falam ao g1 com exclusividade
“Aí que mora o perigo, aí que eu caio lindo. Aí que eu sei das consequências, mesmo assim vou indo”. Já ouviu essa frase? Provavelmente sim. Ela é a letra de “Arranhão”. Mais do que isso, ela é letra da música mais tocada da história do Spotify no Brasil. O megahit, do famoso refrão “O que é um Arranhão para quem já tá f*”, catapultou ainda mais a carreira de Henrique e Juliano e tem a inalcançável – até agora – marca de 319,9 milhões de execuções na plataforma de streaming.
Mas, como surge um sucesso desse tamanho? Quais foram as etapas da criação de um clássico contemporâneo? Em meio à Festa do Peão de Barretos 2023, o g1 conversou com Kaique e Felipe, que se apresentaram no Palco Amanhecer do maior rodeio da América Latina e assinam a música, junto com outros quatro colegas compositores, para entender os bastidores do surgimento da canção. Assista no vídeo acima à entrevista, entenda a história da música e conheça a dupla.
Dupla Kaique e Felipe
Ricardo Nasi/g1
📱 Falta de ideias e mensagem em fazenda
O ponto de partida da música, segundo contou Felipe, foi uma mensagem que ele recebeu da esposa quando ele estava na fazenda de Henrique e Juliano, sem ideias para novas músicas.
“Era umas 15h, eu não postei que estava bebendo nada, estava sem tema, sem nada, os meninos não estavam lá. Aí a Karine, minha esposa, mandou uma mensagem: você não está bebendo não, né, Felipe? Eu pensei: cara, como ela sabe que eu estou bebendo. Aí surgiu o começo: parece que você sente cheiro de bebida de longe, sabe que eu sou fraco aí que entra seu nome na tela do celular”, disse.
🖐 Pausa de 20 dias
O desenvolvimento do começo da música feita por Felipe ganhou apoio do irmão, Kaique, que auxiliou na composição da canção até o pré-refrão.
Sabe onde minha saudade aperta quando o seu dedo aperta na palavra que me acerta e deixa minha raiva cega. Cê sabe que eu sou incapaz e a falta que faz.
No entanto, a inspiração precisou ter uma pausa. Os irmãos interromperam a composição e deixaram ela parada por 20 dias até encontrar os outros parceiros que costumam escrever músicas com eles.
“Depois, a gente foi para uma chácara que a gente aluga sempre, a gente até apelidou de chácara Arranhão. A gente tinha feito sete músicas na semana, a gente já tava cansado, fritou a cabeça, mas falamos para eles: a gente tem uma ideia aqui, e mostramos”, revelou Kaique.
Kaique, da dupla com Felipe, antes de se apresentar na Festa do Peão de Barretos
Ricardo Nasi/g1
✏ Junção de ideias
Quem assina “Arranhão” junto com Kaique e Felipe é: Edson Garcia, Felipe Marins, Flavinho Kadet e Nudoze. O grupo acrescentou ideias à música e surgiu o poderoso refrão:
“Aí que mora o perigo, aí que eu caio lindo. Aí que eu sei das consequências, mesmo assim vou indo. É que vale a pena, vale a cama, vale o risco. O que é um arranhão pra quem já tá f*?”.
“A energia que a gente sentiu aquele dia foi surreal”, relembrou Kaique. Na hora, eles já pensaram em acrescentar a música ao projeto que Henrique e Juliano iriam gravar: o álbum Manifesto Musical, que também revelou o hit “A Maior Saudade”.
“A gente sabia que eles estavam precisando naquele momento. Eles já tinham um repertório grande, com ‘A Maior Saudade’, mas a gente falava: cara, o que falta? É até engraçado, demorou 20 dias para para fazer. Já tinha feito sete, na oitava, veio ela”, completou Felipe.
Felipe, da dupla com Kaique, na Festa do Peão de Barretos
Ricardo Nasi/g1
❓ Como funciona um grupo de composição?
A ideia de criar uma música em grupo é um método bastante utilizado na música sertaneja atual. Muitas vezes as letras e melodias são inscritas em seis ou sete mãos. Kaique e Felipe contaram que ligam para compositores amigos quando tem uma “janela” de alguns dias sem shows, e eles se reúnem por três ou quatro dias para fazer as canções.
“A composição na verdade é uma junção de ideias que acontece naquele momento. Um pega o violão, coloca uma nota, um vem com a melodia, aí um já vem com uma letra que fez no banho, no carro, ou vê uma frase na internet que está em alta, escuta a história de alguém. Aí vai juntando”, finalizou Kaique.
Kaique e Felipe
A dupla se apresentou na noite de segunda-feira (21) em Barretos. Entre os lançamentos mais recentes, está a canção “Aquela Pessoa”, gravada em parceria com Luan Santana. O sucesso nas composições mudou o patamar da carreira dos dois cantores em relação ao impacto no mercado e, claro, financeiro também.
“A gente foi mudando de vida e não viu. Eu falei para o meu irmão: você já viu onde a gente mora? A casa que a gente tem? Com quem a gente fala”, pontuou Felipe.
“Com a música a gente realizou um dos maiores sonhos que a gente tinha, que era dar uma casa para os nossos pais. Primeiro dinheiro que a gente recebeu de composição, a gente nem carro tinha, a gente comprou uma casa para os nossos pais”, contou Kaike.
O momento financeiro bom e a estabilidade da carreira nem sempre foram assim. A dupla surgiu para a composição em uma época em que pensavam em voltar a trabalhar com o pai como servente de pedreiro, porque não conseguiam fazer sucesso. Além disso, um tempo depois, foram obrigados a ficar cinco anos sem cantar por problemas com o escritório.
“A gente estava decidido a voltar, já tínhamos avisado todo mundo. A gente dormia no chão de um estúdio. E as coisas não estavam dando certo. Mas a gente resolveu gravar um vídeo cantando uma música nossa que chama ‘Cada um na Sua’. E a gente já tinha desistido de compor. Aí o Sorocaba [da dupla com Fernando] viu o vídeo, descobriu a gente e mandando uma mensagem pedindo para gravar a música”, finalizou Felipe.
Dupla Kaique e Felipe em entrevista ao g1 na Festa do Peão de Barretos
Ricardo Nasi/g1
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