
De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), número de adolescentes com obesidade grave é de 4,17%. Doença vai além de má alimentação e sedentarismo, dizem especialistas. Muitas pessoas têm dificuldade em manter a perda de peso após tratar obesidade.
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Os dados mais recentes sobre a população obesa colocam Ribeirão Preto (SP) acima da média nacional quando o assunto é obesidade entre adolescentes atendidos pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde.
Com base no indicador, 16,89% dos jovens enfrentam a doença — 4,17% deles em sua forma mais grave. Outros 19,53% já estão com sobrepeso.
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A média no Brasil é de 12,57% adolescentes obesos e 18,6% com sobrepeso. O levantamento chama a atenção para um fato alarmante: um terço da população até 19 anos está acima do peso no país.
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Diretor de operações do Instituto Cordial, responsável pelo Painel Brasileiro da Obesidade, Luis Fernando Villaça Meyer diz que a doença não é uma particularidade do Brasil e o mundo enfrenta uma sindemia — que é mais do que uma pandemia — de obesidade.
“A gente vai chegar em um percentual de a população global vivendo com obesidade, vai virar metade da população. E isso é completamente insustentável para o sistema de saúde, para a previdência e para todos os sistemas de assistência social também”.
Segundo ele, já são mais de 60% de brasileiros com sobrepeso. Em Ribeirão Preto, ainda segundo os dados do Sivan, a população adulta também apresenta indicadores preocupantes.
Considerando obesidade grau III (a chamada obesidade mórbida), são 7,03%. Na média nacional, 4,39% das pessoas convivem com a doença em sua forma mais grave.
Na cidade, 32,61% das pessoas atendidas pelo Sisvan têm sobrepeso. A média nacional é pouco maior, de 34,46%.
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Para Luis Fernando, a obesidade no Brasil não é apenas questão de comportamento e tem muito a ver com o acesso a uma alimentação saudável, que, muitas vezes, não chega nas populações de rendas mais baixas.
“A produção de commodities, como milho, soja, teve um aumento de produção muito acentuado comparado com o uso da terra para produção de arroz, feijão e outros alimentos que são muito importantes para a máquina alimentar brasileira. O que que isso significa? Que o alimento in natura brasileiro está ficando mais caro proporcionalmente ao alimento ultraprocessado, e aí eu digo aqui, salsicha, salgadinho, tudo quanto é tipo de coisa. Esses ultraprocessados estão, cada vez mais, ficando mais baratos proporcionalmente com os alimentos in natura no Brasil e no mundo”.
O aumento no consumo de industrializados ultraprocessados, como salgadinhos, aumenta a obesidade
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Em um contexto de desigualdade social, a família com menos poder aquisitivo terá mais acesso a um salgadinho ou refrigerante.
“Isso é uma tendência global. Tem a ver com produção dos alimentos e tem a ver também com marketing, com o mercado, como que os governos lidam com as taxações e desincentiva o consumo de bebidas açucaradas. A gente teve uma reforma tributária no Brasil no ano passado que tentou aumentar as taxas desse tipo de vício do álcool, isso não passou. É um problema também”, diz Luis Fernando.
Para a endocrinologista Patrícia Moreira Gomes, médica assistente do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), outro problema é que os ultraprocessados são, geralmente, muito mais saborosos.
“São frequentemente ricos em açúcares, gorduras saturadas e calorias. E eles contribuem significativamente para o ganho de peso da pessoa. Geralmente são alimentos mais baratos e acessíveis do que outras opções saudáveis. Para muitas famílias, a escolha que essas pessoas têm, não tem como consumir outros alimentos. Então, indivíduos com um contexto de menor renda passam a adquirir esses tipos de alimento como uma forma de matar a fome, de conseguir ter alimento por um preço mais baixo e aí vem a segurança alimentar da população”.
Projeção futura é preocupante
De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade, divulgado neste mês, com base nas tendências atuais, o mundo não atingirá as metas de 2025 propostas na Assembleia Mundial da Saúde para a prevenção e o controle de doenças crônicas não transmissíveis. Isso inclui interromper o aumento da obesidade e do diabetes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em cinco anos o Brasil pode atingir o quarto lugar no ranking global de países com população obesa.
Patrícia diz que a projeção para o futuro é preocupante.
“A gente tem visto um crescimento rápido da obesidade, é alarmante e sugere que políticas públicas de saúde precisam ter urgência nesse momento”.
Segundo ela, o caminho está, principalmente, na implementação de ações focadas em educação nutricional desde a fase escolar, além de incentivos para atividades físicas e leis que regulamentem alimentos ultraprocessados.
“A gente precisa facilitar o tratamento à saúde para tentar reverter essa tendência [de crescimento da obesidade]. Colaboração tanto de governo, setor privado e comunidade pode ser crucial para poder melhorar essas projeções”.
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