Moradora de Cássia dos Coqueiros, SP, diz que recebeu insulina vencida da prefeitura


Família não percebeu que validade do produto expirou em janeiro e utilizou medicamento. Administração municipal admitiu erro e disse ter tomado providências após notificação. Insulinas vencidas foram entregues a moradora que cuida de mãe idosa e diabética em Cássia dos Coqueiros, SP
Reprodução/Redes sociais
Uma moradora de Cássia dos Coqueiros (SP) recebeu canetas de insulina com a validade vencida para aplicar na mãe, uma idosa de 62 anos que faz tratamento contra diabetes.
Segundo ela, a medicação foi retirada na Farmácia Popular do Hospital da Saúde no dia 22 de junho. A data de validade que consta na caneta é de janeiro de 2023, detalhe que passou despercebido até sexta-feira (14), quase um mês depois, quando foi fazer uma nova aplicação de insulina na mãe.
“Todo mês eu olho a data de validade. Via no hospital, coisa que eu vou comprar, eu sempre olho. Desta vez eu não olhei porque estava passando por um problema particular meu”, explica a moradora, que prefere não ser identificada.
A mãe dela faz uso de dois tipos de insulina, a regular e a NTH, que são identificadas pelas cores amarela e verde, respectivamente.
A principal diferença entre as duas é que a primeira tem um início de ação mais rápido. Já na segunda, o início da ação é mais tardio, o que provoca uma duração maior do medicamento no organismo.
Foi durante a troca de agulhas na última sexta-feira que a moradora percebeu o deslize.
“Eu falei ‘nossa mãe, desta vez não olhamos a data de validade’. Minha mãe falou ‘imagina, não precisa olhar não, nunca tem problema’. Na hora que eu olhei a data de validade, eu entrei em pânico”, desabafa.
Ela conta que, como tem um problema de visão e a mãe tem dificuldade em ler e escrever, foi até a vizinha, tremendo, para pedir que verificasse se o produto realmente estava vencido, já que tinha esperança de ter confundido os números finais, de 2023 para 2025.
“Eu falei ‘dei insulina vencida na minha mãe’. Fui olhar as outras [canetas], o lote deste mês estava todo vencido”.
Segundo a mulher, seis unidades entregues pela prefeitura estavam vencidas e ela chegou a aplicar cinco na idosa, que toma o medicamento três vezes ao dia.
O g1 procurou a prefeitura e a Secretaria Municipal de Saúde de Cássia dos Coqueiros. Por telefone, uma assistente da pasta admitiu o erro e garantiu que todas as medidas foram tomadas após tomarem conhecimento da situação.
Ela, no entanto, minimizou o fato e chegou a dizer que “errar é humano” e que a paciente deveria ter checado a validade da insulina.
A mulher também garantiu que a farmacêutica responsável pela distribuição dos medicamentos vencidos foi punida pelo erro e que a paciente teve toda a assistência por parte da prefeitura, inclusive, durante o fim de semana.
A Secretaria de Saúde também afirmou que este foi o único caso registrado em Cássia dos Coqueiros e ressaltou que a pasta atende mais de cinco mil pacientes com a entrega de medicação.
Insulinas vencidas foram entregues a moradora que cuida de mãe idosa e diabética em Cássia dos Coqueiros, SP
Reprodução/Redes sociais
De onde vem as insulinas?
As insulinas são enviadas para os municípios da região pelo Departamento Regional de Saúde (DRS) de Ribeirão Preto.
O g1 também procurou a Secretaria Estadual de Saúde que informou, em nota, que o lote com vencimento em janeiro de 2023 foi retirado pela Secretaria Municipal de Cássia dos Coqueiros em 16 de março de 2022.
Segundo a pasta, portanto, cabe aos profissionais do município controlar a dispensa destes medicamentos a partir da entrega do lote.
Receita para idosa diabética que recebeu Insulinas vencidas em Cássia dos Coqueiros, SP
Reprodução/Redes sociais
Quais os riscos?
Segundo o médico endocrinologista Thiago Hirose, o maior problema de fazer uso de uma insulina vencida é o medicamento não funcionar, ou seja, não baixar a glicemia do paciente.
“Se está vencida, pode simplesmente não funcionar. A glicemia do paciente pode ficar alta o tempo inteiro, já que ela não tem porquê baixar”.
No caso da idosa e na maioria dos casos de descuido, não há danos imediatos em usar o medicamento vencido.
Porém, caso o paciente ou o cuidador não perceba o erro a tempo, a longo prazo, os riscos aumentam.
“Uma glicemia muito alta, grave, o paciente corre o risco de ir para quadros de gravidade máxima da diabetes. Nesses casos, ele pode ir internado ou até mesmo vir a óbito”, explica Hirose.
Para a família da paciente, o susto serviu de alerta.
“É claro que estamos sujeitos ao erro, todo mundo tem o direito de errar. Mas é a vida da população, não é só a vida da minha mãe. Não quero prejudicar ninguém, mas foi um erro muito grave que não deve acontecer”.
Após perceber que as insulinas entregues pela prefeitura estavam vencidas, a moradora emprestou uma da vizinha, cujo lote tinha um medicamento fora do prazo da validade.
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