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Bebedouro é a cidade mais afetada, com 162 dias com termômetros acima da média e temperatura máxima na casa dos 41ºC. Outras 28 cidades tiveram mais de 120 dias de temperaturas mais elevadas do que o normal. Região passou 4 meses com temperatura extrema em 2024
Reprodução/EPTV
A região de Ribeirão Preto (SP) e Franca (SP) enfrentou, em média, quatro meses de calor extremo em 2024, ano considerado o mais quente da história do planeta. Bebedouro (SP) foi a cidade mais afetada, com 162 dias de temperaturas acima da média, seguida por Taquaral (SP), com 153, e Pitangueiras (SP), com 148.
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Ribeirão Preto registrou 126 dias de temperaturas extremas, com máximas acima de 40°C. Franca teve um dia a mais de calor intenso, totalizando 127 dias.
O levantamento exclusivo foi realizado pelo g1 com dados do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No Brasil, 111 cidades enfrentaram mais de cinco meses de temperaturas acima da média, sendo o Pará o estado mais impactado.
Guilherme Alves Borges, meteorologista do Climatempo explica que 2024 foi marcado por sucessivas ondas de calor, que tornam o clima mais seco. O outono e iverno que costumam ser mais frios, permaneceram mais quentes, favorecendo temperaturas acima da média.
“Quando analisamos o cenário desde o início do processo de mudança climática, observamos que eventos extremos, tanto de chuva quanto de calor, estão se tornando mais frequentes. Em 2024, tivemos oito ondas de calor; em 2023, foram nove. Ou seja, essas ondas de calor estão cada vez mais presentes, não só no Brasil, mas em outros países também”, diz.
Cidades da região de Ribeirão Preto passaram, em média, 4 meses em calor extremo
Impactos na saúde e na economia
De acordo com a pesquisadora Ana Paula Cunha, do Cemaden, o aumento das temperaturas tem impactos diretos na saúde humana. Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 14 anos, quase 60 pessoas morreram no Brasil em decorrência do calor extremo.
“O calor intenso eleva o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias, além de aumentar a mortalidade, especialmente entre populações mais vulneráveis, como idosos e crianças”, afirma.
O calor extremo também pressiona a infraestrutura urbana. O setor elétrico enfrenta alta no consumo de energia para resfriamento de ambientes, enquanto a agricultura sofre perdas. Na região, a produção de café e cítricos foi prejudicada, impactando os preços para o consumidor.
Seca e incêndios agravam cenário
A seca prolongada e os incêndios também contribuíram para as temperaturas extremas, segundo Ana Paula Cunha.
“Com a falta de chuvas, a umidade do solo diminui. Sem evaporação suficiente, a energia solar aquece diretamente o ar, intensificando as ondas de calor”, explica.
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Além das temperaturas recordes, a região enfrentou a pior seca da história e uma onda de incêndios florestais que devastou plantações, reservas ambientais e trechos de rodovias. O Estado de São Paulo decretou situação de emergência após registrar 305 focos de incêndio em um único dia, em agosto, o maior número do país.
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Reprodução/Redes Sociais
Em Luiz Antônio (SP), a Reserva Estadual de Jataí, a maior do Cerrado paulista, queimou por vários dias e ficou quase totalmente destruída. Muitos incêndios foram criminosos, segundo autoridades ambientais.
A fumaça tomou conta das cidades, reduzindo a visibilidade e piorando a qualidade do ar, que ficou entre as piores do Brasil por semanas consecutivas. Além disso, o forte cheiro de fuligem foi sentido por dias, enquanto moradores enfrentavam picos de energia e problemas no abastecimento de água.
A proximidade do fogo de áreas urbanas assustou moradores, especialmente entre agosto e outubro, período mais crítico. Diversos animais também morreram e foram resgatados durante o período.
Fatores urbanos também influenciam no aquecimento da região. O desmatamento e a substituição da vegetação por pastagens e construções agravam o problema.
“O crescimento urbano contribui para o aumento das temperaturas. Cidades são naturalmente mais quentes do que áreas com maior cobertura vegetal”, explica a pesquisadora.
Bebedouro ficou 162 dias com termômetro nos 41ºC no ano passado
O que esperar de 2025?
Embora 2024 tenha sido um ano recorde, a expectativa é que 2025 seja menos extremo devido à influência do fenômeno La Niña, que resfria as águas do Oceano Pacífico.
“Ainda assim, o planeta como um todo está mais quente, e a tendência pode se repetir nos próximos anos”, alerta Cunha. “A configuração dos oceanos está diferente, o que pode amenizar o calor, mas não eliminá-lo por completo.”
De acordo com Guilherme Alves Borges, a única esperança de reversão do cenário é a transformação do modo de vida com a redução dos gases de efeito estufa e práticas que favorecem o aquecimento global.
“Em relação à recorrência de eventos extremos, como os registrados em 2024, só poderemos confirmar ao longo do tempo, acompanhando a evolução do clima, tanto regional quanto globalmente”, diz.
Metodologia do estudo
Entenda como o estudo foi feito:
🔎 Para cada dia do ano foi calculado um valor limite de temperatura.
🔎 Para isso, foram analisandos os dados diários da série histórica entre 2000 e 2024.
🔎 Como resultado, foi constatado o total de dias no ano de 2024 que superaram os valores mais altos vistos na série histórica, o que configura um extremo de calor.
🔎 O índice é o mesmo usado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Por exemplo, segundo os dados, para o mês de novembro, a temperatura em Belém, capital do Pará, é considerada extrema quando é maior que 33,9°C. Neste mês, a cidade registrou temperaturas que superaram essa máxima e chegaram a 37,1°C.
O levantamento considerou informações de 5.571 municípios brasileiros. Pouco mais de 100 ficaram de fora, o que inclui as capitais João Pessoa e Recife. Segundo a pesquisadora do Cemaden Márcia Guedes, que fez parte do levantamento, isso ocorre porque ao coletar os dados do satélite, a resolução não conseguiu alcançar algumas cidades na faixa litorânea.
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