Vítima rebate críticas de mulheres após denúncias de assédio sexual contra ortopedista em SP: ‘Fomos procurar um médico’


Leila Severino é uma das oito pacientes que já prestaram queixa contra Laerte Fogaça, preso em flagrante em Igarapava. Ele nega as acusações e obteve liberdade provisória na Justiça. Câmara de Ituverava, SP, diz que não vai investigar médico por enquanto
A costureira Leila Severino é uma das oito mulheres que já procuraram a Polícia Civil de Igarapava (SP) desde quarta-feira (24) para denunciar o médico Laerte Fogaça de Souza Filho por assédio sexual. Leila diz ter sido vítima há dois anos, quando passou por consulta porque sentia dores no joelho.
Na época, Leila ficou calada por temer a reação das pessoas, mas ela é a mesma com a qual a costureira tem se deparado desde que resolveu expor a situação.
“Inclusive tem mulher que está nos criticando, que está falando que foi um engano, que nós é que fomos sem vergonha por ter acontecido isso. A gente foi procurar um médico, inclusive pagamos consulta e não foi barato, porque a consulta dele é cara, para poder acontecer um constrangimento desse”, diz.
Em outubro de 2020, a costureira foi atendida por Laerte Fogaça no Hospital dos Canavieiros, em Igarapava. O relato dela é semelhante ao de outras pacientes já ouvidas pela polícia e que também conversaram com a EPTV, afiliada da TV Globo.
A costureira Leila Severino denunciou o médico Laerte Fogaça em Igarapava, SP, por assédio sexual
José Augusto Júnior/EPTV
Segundo a costureira, o médico pediu que ela se deitasse de bruços na maca, alegando que faria um exame. A conduta do ortopedista, no entanto, não foi a de uma avaliação comum.
“Ele pegou minhas mãos, colocou para trás e encostou na maca. Aí ele começou a massagear meu pescoço, muito estranho, um toque diferente. Ele foi descendo as costas. Quando chegou nas cadeiras [quadril], ele desceu um pouco a calcinha e a minha saia. E me apalpando. Ele fez isso uns dois minutos. Na hora que ele estava massageando as minhas costas, ele encostou bem na maca, e na palma da minha mão, ele encostou o pênis. Ele me massageando, eu senti o pênis dele na palma da minha mão.”
Leila diz que ficou sem reação na hora e não conseguiu sequer olhar no rosto do médico antes de deixar o consultório. Do lado de fora, o marido a aguardava, mas ela não teve coragem de contar a ele o que tinha acontecido. A única a saber sobre o assédio na época foi a cunhada.
“Foi um tormento muito grande até que eu consegui me abrir com outras pessoas. Eu fiquei com vergonha de mim mesma”, afirma.
Investigação
Ao tomar conhecimento da denúncia de uma paciente de 37 anos na quarta-feira, quando Laerte Fogaça foi preso em flagrante, a costureira reforçou o número de queixas feitas na Polícia Civil. “Eu espero que ele fique atrás das grades e não faça mais vítimas”, diz.
Antes de prender o ortopedista na quarta-feira, o delegado de Igarapava, Gustavo Fernando Tomaz da Silva, verificou que duas pacientes tinham registrado boletim de ocorrência em 2020 e em 2022, em Aramina (SP) e Guará (SP).
A cabeleireira Adélia Aparecida Souza da Silva, de Guará, SP, denunciou o médico Laerte Fogaça Souza Filho por assédio sexual
Arquivo pessoal
De acordo com o delegado, os relatos das vítimas antigas e das que procuraram a polícia agora sugerem que o médico tinha um padrão.
“Os boletins de ocorrência antigos contra ele têm uma similitude muito grande no modus operandi para praticar os abusos. Isso é um indício de que ele poderia estar praticando esse ato com frequência. É bem parecida a maneira como expõe as vítimas. Sempre tem a maca envolvida, um atrito, uma fricção de genitália que a vítima sempre acha estranho e percebe na hora”, diz.
Apesar disso, a Justiça concedeu liberdade provisória ao médico, que também é vereador em Ituverava (SP), mediante pagamento de fiança no valor de R$ 40 mil e cumprimento de medidas cautelares, como a proibição de atender mulheres, salvo em casos de urgência e emergência.
O Ministério Público diz que vai recorrer da decisão da Justiça.
Laerte Fogaça de Souza Filho é suspeito de abuso sexual contra paciente em Igarapava, SP
Reprodução/Câmara dos Vereadores de Ituverava
O que diz o médico
O advogado de Laerte, Matheus Queiroz de Souza, nega que o médico tenha praticado os crimes.
“O acusado é inocente e desconhece totalmente as imputações que lhe são impostas pelas supostas vítimas. No decorrer da instrução processual, o Dr. Laerte terá a oportunidade de expor a verdade dos fatos e, ao mesmo tempo, comprovar a sua inocência. Cumpre ressaltar que o Dr. Laerte possui conduta irrepreensível na vida pública e privada, bem como no atendimento aos pacientes e convívio com colaboradores.”
Em nota, a Unimed Norte Paulista, responsável pelo Hospital dos Canavieiros, que funciona como ambulatório em Igarapava, disse que abriu sindicância interna para apurar as denúncias contra o médico Laerte Fogaça.
“O departamento jurídico enviou notificação ao médico e aguarda seus esclarecimentos iniciais. Todos os fatos serão oportunamente averiguados pelos integrantes da comissão e, ao final, será emitido parecer opinativo.”
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